8 de agosto de 2012

OS IDEAIS DA MAÇONARIA.

OS IDEAIS DA MAÇONARIA

(Palestra proferida em 1928, na cidade de São Paulo, em um antigo templo maçônico da Rua Tabatinguera.)

Toda a religião existente, ou que haja existido, tem tido como um de seus objetivos desenvolver o sentimento de fraternidade entre os homens. Elas, porém, só tem alcançado um êxito parcial neste aspecto de seu trabalho. Basta contemplar o espetáculo dentro do Cristianismo, em que o povo cristão se tem combatido uns aos outros, por séculos, para verificar que existe um fundo de verdade no sarcástico comentário de um antigo pagão: "vede como esses cristãos se amam uns aos outros".

Lado a lado com a religião externa de um povo, sempre existiu uma ou mais sociedades secretas que tem como objetivo desenvolver o sentimento de fraternidade entre os seus membros. Essas sociedades secretas são exclusivistas, isto é, admitem apenas aqueles selecionados para tal fim; possuem sinais secretos e palavras de reconhecimento entre si. Reúnem-se a portas fechadas e o que fazem é desconhecido do público em geral. Não estou revelando segredo algum de sociedade secreta ao que dizer que uma parte de seu trabalho visa unir seus membros por liames mais íntimos de fraternidade.

Entre os muitos tipos de sociedades secretas a mais conhecida é a Franco-Maçonaria. Sob uma ou outra forma, a Maçonaria sempre existiu. É mais antiga que qualquer das religiões existente, pois que os sinais e símbolos maçônicos hoje usados se encontram esculpidos nos monumentos do Egito antigo. O público pode ver nas casas que vendem objetos maçônicos os "aventais" e "colares" que os maçons usam em suas cerimônias; raras vezes eles aparecem com suas alfaias em público. Os faraós do Egito apresentam-se nos monumentos, usando o colar e o avental, posto que o avental de então não seja quadrado como o de hoje, porém triangular. Certos sinais maçônicos aparecem também no famoso "Livro dos Mortos".

Por que é que a Maçonaria tem persistido através das idades, enquanto que as religiões, sucedendo-se, vêm e vão? Há duas razões principais para isso. A uma delas já aludi, e é a fraternidade. Os que entram para sociedades secretas, que possuem os ideais da Franco-Maçonaria, acham-se ligados uns aos outros por fortes laços de fraternidade. Essa fraternidade se dirige em primeiro lugar aos membros da sociedade secreta, porém não deve parar por aí. O verdadeiro maçom deve praticar para com todo o mundo as três grandes virtudes da Maçonaria sobre as quais constantemente se insiste nas reuniões maçônicas e que são: "Amor Fraternal, Socorro e Verdade". O maçom deve ser caridoso, homem de palavra, e cheio de simpatia para com todos que dele se aproximarem.

Por que necessita ele se filiar a uma sociedade secreta a fim de praticar essas virtudes? Não são elas ensinadas em sua religião? São, porém, de certo modo, posto que sobre elas se ouça falar na Igreja, falta-lhes a intensa realidade e vida que nelas encontra em sua Loja Maçônica. Há alguma coisa em sua Loja que torna mais fácil compreender essas virtudes especiais, quando lá lhe são expostas. Acontece em sua Loja o que vulgarmente não se pode explicar, que traz o ideal da fraternidade mais para perto dos acontecimentos da sua conduta diária. Um homem pode ser bom, isto é, pode ser um centro de amor, caridade e inspiração, pertencendo a qualquer religião ou a nenhuma. Um homem é bom não pelo que as Escrituras ou os sacerdotes lhe ensinam, mas em virtude do que se encentra em seu próprio coração e mente. Na verdade, a religião auxilia o homem a despertar a bondade e a virtude latentes que nele existem, mas este pode também chegar à origem dessas virtudes sem religião alguma, se simplesmente atender às determinações internas de sua alma.

A Maçonaria toma o homem no ponto em que ele se encontra e tenta fazer vir à existência, em sua própria natureza, o sentimento de fraternidade. Digo que a Maçonaria toma o homem "no ponto em que ele se encontra", entendendo por esta expressão que a tradição imemorial da Maçonaria prescreve que todos os homens de todas as crenças podem tornar-se maçons, embora permanecendo dentro do âmbito de sua própria religião. Permiti que explique este fato por meio de um incidente que teve lugar há um século entre os maçons da Inglaterra.

Não é mais segredo que os maçons que se tem como operários e costroem um edifício, falem do "Grande Arquiteto do Universo". Alguns maçons ingleses, na época a que me refiro, desejaram precisar melhor quem é o "Grande Arquiteto do Universo", e assim quiseram que fosse feita uma declaração de que o Grande Arquiteto do Universo é "Deus", isto é, a Divindade adorada no Cristianismo que elegeu os judeus como o povo escolhido, que enviou seu Filho para salvar o mundo e cujos ensinamentos se encontram no Velho e Novo Testamentos. Tal definição do Grande Arquiteto, como Deus cristão, teria imediatamente excluído hindus, os zoroastrianos, os maometanos e outros que acreditam em Deus, porém não aceitam as tradições dos judeus, ou que Jesus Cristo seja o único Filho de Deus. A Grande Loja da Inglaterra recusou, portanto, definir a frase "Grande Arquiteto do Universo", e deixou a cada maçom tornar mais precisa a significação dessa frase, de acordo com sua tradição religiosa. Assim acontece agora que, quando um cristão presta seu juramento em certas cerimônias maçônicas, fá-lo sobre a Bíblia, e o hindu o presta sobre os Vedas, o zoroastrino sobre o Zend Avesta e o muçulmano sobre o Alcorão.

Um passo avante de modo definido na prática dos ideais maçônicos, da fraternidade, foi dado quando certos maçons franceses, há trinta anos, decidiram admitir as mulheres na Maçonaria. Esta Instituição Maçônica, que tem o seu quartel general em Paris, é conhecida sob o nome de "Supremo Conselho da Co-Maçonaria Universal", e tão rapidamente se expandiu que dificilmente se encontrará um país na Terra onde ainda não existem Lojas Co-Maçônicas. De fato, a admissão de senhoras nas Lojas Maçônicas não constitui uma inovação; é antes uma reversão ao antigo costume. Vê-se pelas pinturas nas tumbas e pelos manuscritos do antigo Egito que a esposa se acha presente quando o marido, como sacerdote, executa cerimônias; na Índia também certas cerimônias existem em que a presença da esposa é necessária. Aqueles dentre nós, homens, que são maçons, verificaram que a beleza do ritual lucrou imensamente com a cooperação das mulheres; sabemos que uma mulher pode "dirigir uma Loja" tão eficientemente quanto um homem. Em geral, as mulheres que entram para a Maçonaria, tomam-na mais a sério do que os homens; descobrem não somente ideais de fraternidade e ética, porém ainda mais um misticismo que as inspira profundamente.

É este elemento místico na Maçonaria que é hoje praticamente ignorado por todos os maçons masculinos. O especial valor do movimento Co-Maçônico para a Maçonaria em geral, resulta do fato de existir nela tão grande número de teosofistas trabalhando, que estudam as suas tradições e encontram não somente "Amor Fraternal, Socorro e Verdade", porém profundas verdades relativamente à natureza de Deus, do homem e do Universo. É pelo fato de todas as grandes verdades da religião existirem na Maçonaria, que esta tem perdurado, apesar das modificações produzidas pelas guerras e calamidades.

Há no mundo dois tipos de religião, que se acham bem ilustrados pelas duas formas de cristianismo: O Catolicismo e o Protestantismo. O primeiro caracteriza-se por múltiplos rituais com cuidadosas cerimônias; ao passo que o segundo se acha isento de muito cerimonial. Nenhuma das formas é melhor do que a outra, porém ambas produzem diferentes efeitos no indivíduo.

O propósito fundamental da religião é, como já disse, capacitar o homem e a mulher religiosos para a descoberta da sua própria religião por experiência direta, pessoal. Não tem grande importância o fato de ser essa descoberta efetuada ou não com o auxílio de cerimonial e sacerdotes. É verdade incontestável que onde quer que a religião tenha muito ritual, uma classe especial de homens experimentados em ritual, os sacerdotes, se torna necessária para o culto, como também é verdade que freqüentemente os sacerdotes se organizam a si mesmos numa classe e impõem a sua autoridade, dizendo que sem o auxílio dos sacerdotes não é possível aproximar-se de Deus. É então que se faz necessário um protesto contra a autoridade sacerdotal, como aconteceu nos primórdios do protestantismo. Um protesto, porém, contra os sacerdotes, como classe, não implica que suas cerimônias sejam ineficazes. Uma tal suposição seria o mesmo que afirmarmos, pelo fato de o motorista de um veículo estar embriagado, que os veículos não tem utilidade. Deve haver alguma utilidade nas cerimônias, pois que, desde os primórdios da religião, sempre o ritual e o cerimonial sob alguma forma têm sido associados com a religião.

Ora, a Maçonaria é, por excelência, um culto de cerimonial, posto que seu propósito é edificar os homens numa fraternidade única de cooperadores com o Grande Arquiteto do Universo. A Franco-Maçonaria Ocidental possui trinta e três graus, que se acham divididos em quatro seções conhecidas respectivamente por Maçonaria Azul, Maçonaria Vermelha, Maçonaria Preta e Maçonaria Branca. Cada grau tem o seu ritual apropriado ou modo de compreensão de como o Grande Arquiteto opera em Seu Universo; ensina com que particulares virtudes e capacidades pode um franco-maçom cooperar, entre os homens, com o trabalho oculto continuamente efetuado pelo Grande Arquiteto.

A Maçonaria ilustra, portanto, por meio do ritual, qual a conduta para um indivíduo que se determina cooperar com o Criador. As cerimônias da Maçonaria são simbólicas, isto é, revelam ao observador cuidadoso verdades secretas. Da natureza das verdades secretas eu vos posso sugerir, mostrando-vos a significação interna de um cerimonial, que todos conheceis bem em vossa religião, porém de cuja verdadeira significação poucos provavelmente se apercebem. Refiro-me a cerimônia da missa, que todo o sacerdote católico deve executar todos os dias.

Haveis inquirido já a razão pela qual o sacerdote na missa usa uma casula, tendo nas costas uma cruz? Por que há três degraus dando acesso ao altar? Por que se acha o missal a princípio do lado direito do sacerdote e depois é removido para a esquerda? Toda a ação do sacerdote é simbólica, isto é, recorda algo do que aconteceu outrora. Naturalmente, a cerimônia da missa destina-se a comemorar a última ceia, tal como se há descrito em S. Mateus 26:26-28:

"...E quando se achavam comendo, Jesus tomou o pão, abençoou, partiu e deu aos discípulos dizendo: tomai e comei; este é o meu corpo. "...E tomou o cálice, deu graças e lho deu dizendo: Bebei dele todos, pois este é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados."

Estas palavras do Cristo não indicam que devem existir sacerdotes, diáconos, sub-diáconos; que o sacerdote deve vestir uma Alba, passar uma corda à cintura, por uma estola e uma casula; que a cerimônia da missa deve ter um intróito, um ofertório, um cânone e post comunio. Todas essas complicações se originaram dos simples atos mencionados. Por que é tão complicada a cerimônia da missa?

Porque em todos os rituais, de todas as religiões, existem certas concepções fundamentais de misticismo. E essas mesmas concepções se encontram por debaixo do ritual maçônico também, conquanto o maçom mediano nada saiba em relação a elas. Por que existe uma tão amarga hostilidade entre o catolicismo romano e Maçonaria? Por uma razão muito simples: é que ambos ensinam os mesmos mistérios.

Permiti registrar que entrei para a Maçonaria há vinte e quatro anos e me filiei à Co-Maçonaria que, então, era um movimento recente, afim de poder ajudar a causa das mulheres. Desde então tenho avançado de grau em grau. Durante vários anos fui Mestre de Cerimônias de minha Loja na Índia; depois, durante dois anos sucessivos, fui seu Venerável. Possuo o grau de Mark-Master da Maçonaria do Real Arco e pertenço a dois de seus Capítulos, um em Londres, outro em Madras (Índia); neste último ocupo a posição de Primeiro Principal. Pertenço também a vários Capítulos do Décimo Oitavo Grau da Rosa-Cruz e fui o chefe do Capítulo Rosa-Cruz ao qual pertenço, na Índia. Tenho também o Trigésimo Grau na Maçonaria, a de Cavaleiro Kadosh. Tenho consagrado templos e capítulos em muitas partes do mundo, e freqüentemente tenho sido "Oficial Instalador", quando novos oficiais numa Loja ou Capítulo são empossados. Além disso, pertenço a uma rara divisão da Maçonaria, conhecida como Rito de Mênfis, e nela ocupo o penúltimo grau; o santuário dos Ritos era em Palermo. Digo "era", porque o santuário deste rito encontra-se agora fechado, afim de não entrar em conflito com os decretos do governo fascista. Sempre me hei de lembrar que, quando fui admitido ao Santuário do Rito de Mênfis, durante uma parte da cerimônia foi usada a espada de Guiusepe Garibaldi, que fora um membro do Santuário. Menciono todos estes fatos acerca de minha pessoa, afim de vos demonstrar que sou não somente um maçom, porém um dos estudantes dos mistérios e tradições maçônicas. Foram os mistérios da Maçonaria os que sempre me fascinaram; a fraternidade ensinada na Maçonaria é apenas o ABC de conduta que aprendi como teosofista, muito antes de me tornar franco-maçon.

Pertenço a uma religião, o Budismo, que não possui sacerdotes consagrados, nem cerimônias de culto considerada como necessária à santidade. Iniciei, portanto, a minha vida com uma tendência anticerimonial, porque se sabe, pelos exemplos da história, como os sacerdotes, com suas cerimônias, suprimem a liberdade do pensamento e da ação. Porém cedo, após haver entrado na Maçonaria, comecei a verificar que as cerimônias do Hinduísmo eram muito semelhantes às do catolicismo romano e que a maçonaria tinha muitos pontos de contacto com ambas. Assim, pois, comecei a estudar o ritual da missa, e a ler, ao mesmo tempo, certos rituais antigos do Hinduísmo. E ao percorrer, um por um, ascencionalmente, os graus da Maçonaria, sentia-me sempre bem, pois que rapidamente compreendia o significado interno de cada grau, por haver estudado o cerimonial da missa e o que de análogo havia no Hinduísmo em relação à ela. Permiti que eu vos esboce a idéia que se encontra sob o cerimonial.

Todo ritual parte do axioma de que Deus existe. Não importa que nome Lhe seja dado. Esta Divindade é sempre um construtor, não um Deus imóvel, simples espectador. Ele não criou o Universo outrora somente, mas o está criando a todo instante. A Divina Ação é perpétua; se por um instante o Grande Arquiteto repousasse em Sua ação, o Universo morreria, como fenece uma flor.

Existe, porém, uma segunda verdade sobre a qual todos os cerimoniais estão fundamentalmente edificados. É que a criação do Universo por Deus é um ato de autosacrifício. Ensina-se no Cristianismo que o Cristo é o "Cordeiro Imolado desde o começo do mundo" e que veio afim de ser crucificado; que a Sua crucificação, de certo modo misteriosa, faz parte do plano de Deus para a salvação da Humanidade. Se Cristo não viesse voluntariamente a este mundo, com conhecimento prévio de que seria torturado e crucificado, não existiria hoje caminho aberto aos homens para a redenção. Esta mesma verdade é ensinada no Hinduísmo. Foi pelo fato de Prajapati, o Criador do Universo em Pessoa, se haver deitado sobre um altar, para aí ser oferecido como vítima, que o Universo veio à existência. Todo o misticismo ensina esta mesma verdade - a de que Deus tem que morrer, voluntariamente, afim de que o Seu Universo e os Seus filhos possam vir à existência. A morte de Osíris no Egito, a de Átis na Assíria, a de Cristo na Palestina, a de Hiram Abiff, quando o Templo do Rei Salomão estava sendo construído, todas elas revelam a mesma verdade de que o Absoluto que chamamos Deus ou o Grande Arquiteto do Universo, executou no início do mundo um ato voluntário de imolação de si mesmo, afim de que as almas individuais pudessem vir à existência. É por isso que em vosso ritual cristão da missa o santo pão e o vinho consagrados se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo, e são denominados "Hóstia", palavra que significa "vítima".

E este autosacrifício de Deus, sem o qual a criação do Universo não é possível, é uma ação contínua, isto é, está se sacrificando a todo instante pelo bem de Seu Universo. Existe um outro axioma em misticismo: o de que Deus e o homem são um e não dois. Por muito diferente que pareça o homem de Deus, quer em bondade, quer em grandeza, no entanto, de certa maneira mística, tanto a bondade como a grandeza de Deus se acham latentes nele. Desde que o homem, pois, em certo modo é Deus, desde que é, por assim dizer, "Deus Encadeado", a sua felicidade vem da sua imitação de Deus. Se Deus cria, o homem deve também criar; se Deus tem necessidade de morrer, o homem necessita de morrer também; se a morte de Deus é um sacrifício voluntário, o homem precisa, também, sacrificar-se voluntariamente; e, finalmente, se Deus, morto, ressurge dentre os mortos, também o homem, ao morrer, passará além da morte, para a imortalidade. A grande máxima em todo o ritualismo é "em cima, como em baixo", isto é, essa seqüência de acontecimentos divinos que tem lugar no reino invisível de Deus, acha-se de certo modo misterioso refletida em nosso mundo humano, nos acontecimentos desta terra, desde que tenhamos olhos para ver.

Compreendereis agora porque durante a missa o sacerdote usa casula, um vestuário com uma cruz nas costas. É porque, nessa ocasião, o sacerdote representa o Cristo. O sacerdote cristão tem um papel dual na cerimônia; ele é ao mesmo tempo o cristo que se oferece como vítima para a salvação do mundo e um representante do povo, que intercede perante Deus, afim de que Cristo se manifeste sob o aspecto de pão e vinho. O altar, de acordo com os rituais católicos, é tanto o calvário como a mesa da última ceia. De qualquer maneira o sacerdote comemora sempre o sacrifício do Cristo no calvário; esta comemoração, porém, não constitui somente um mero registro de um acontecimento que teve lugar há dois mil anos; a comemoração consiste em se tornar efetivo esse acontecimento, reproduzindo-o dia após dia por meio de um ritual. A crucificação do Cristo tem lugar a todo instante, tal como seu corpo outrora foi despedaçado na Palestina, assim também todos os dias, sobre milhares de altares e sob o símile do pão consagrado, é Ele partido. Pois é pelo fato de o autosacrifício de deus ser um autosacrifício perpétuo, que o homem pode elevar-se de sua humanidade limitada até a realização de si próprio como Divindade.

É esta mesma verdade concernente ao autosacrifício que é ensinada na Maçonaria. Cada maçom deve ser um construtor; é um operário sob a direção do Grande Arquiteto que planeja um edifício maravilhoso, que é a "Grande Loja Eterna", o Universo perfeito. Para construção desse edifício perfeito, cada maçom tem que trazer sua "pedra perfeita", perfeita por haver sido experimentada e constatada como "verdadeira" pela perpendicular, pelo nível e pelo esquadro. Ele não pode conhecer o verdadeiro segredo de sua arte enquanto não passar através de certas experiências de fé e martírio e saber que, como construtor, virá a perder a sua vida, e como indivíduo fiel ao seu juramento, ressurgirá novamente dentre os mortos. Necessita buscar o que estava perdido e descobri-lo, afim de poder cooperar com alegria na obra que o Grande Arquiteto do Universo está executando.

Disse já que um axioma inerente a todo verdadeiro cerimonial é que "o que está em baixo é como o que está em cima". Eis porque toda Loja Maçônica é, simbolicamente, uma miniatura do Universo, com um teto que é o céu. O Venerável de cada Loja é uma representação do Rei Salomão, que outrora construiu um Templo perfeito; porém, ao construí-lo, o próprio Rei Salomão era somente um representante do Grande Arquiteto. A grande verdade encontrada em todo o misticismo de que Deus mora em nós, ensinada no Cristianismo pelas palavras de S. Paulo, "Cristo em vós, a esperança de Glória", encontra-se no Hinduismo nas palavras "tat tvem ai" (tu é Aquele), esta mesma verdade aparece na Maçonaria na reverência prestada ao Venerável em sua capacidade Simbólica, e na oportunidade proporcionada a todo aprendiz ingressante de tornar-se um Mestre em sua Loja por meio de fiel serviço.

Na Maçonaria Azul, na Vermelha, na Preta e na Branca cada grau superior ensina novas verdades, revelando o significado oculto da máxima: "O que está em baixo é como o que está em cima". Grau a grau o maçom aprende a desenvolver novos aspectos de seu caráter. Desenvolve essa faculdade latente, não somente para si mesmo, mas também para a humanidade. Pois assim como o sacerdote na missa é o intercessor perante Deus em nome do povo, assim também o verdadeiro maçom executa seu trabalho na Loja, não para si mesmo, mas para o mundo. É pelo fato de em cada sessão de Loja Maçônica que executa bem o seu trabalho, alguma coisa de útil e inspirador irradia para o mundo, que a Maçonaria não pode ser suprimida, posto que certos governos o hajam tentado. É perfeitamente verdade que os maçons em certos países intervieram nos negócios nacionais, umas vezes sabiamente, outras não. A independência da Itália foi grandemente auxiliada pelos maçons, que protegeram os patriotas, perseguidos pelos tiranos. Deu-se o mesmo em outros países, onde os maçons se puderam ao lado das liberdades do povo. Penso, porém, que pouca dúvida resta de que, em alguns países, onde o verdadeiro propósito da Maçonaria não foi compreendido, a sua organização em massa foi utilizada de um modo destituído de sabedoria, no sentido de dominar a política nacional. Deixando de lado essas exceções à benéfica tradição da Maçonaria, permanece o fato fundamental de que, onde maçons se reúnem em Lojas "sobre o esquadro", as forças da Luz Oculta de deus nos corações dos homens são libertas para benefício do mundo. Porque é que libertam essas forças, reunindo-se a portas fechadas e guardando seus segredos zelosamente?

É um axioma em Maçonaria que os maçons se reúnem para trabalhar. Que espécie de trabalho particularmente útil para o mundo podem eles executar com seus misteriosos segredos? Este trabalho é de natureza tríplice. O primeiro trabalho que fazem é no sentido de intensificar o espírito de moralidade no mundo. Toda a reunião maçônica, seja de uma Loja, seja de um Capítulo, tem como aspecto regular de seu trabalho a afirmação, tanto ao candidato que é iniciado, como aos irmãos mais velhos, de certas verdades éticas referentes à reta conduta. O maçom ideal é um homem de conduta perfeita, observando, tanto em espírito como na letra, os preceitos da mais alta moralidade. Domina seus corpos, purifica suas emoções e torna-as elevadas pelo adestramento na contemplação de horizontes mais amplos. Dado o fato de os maçons não serem reclusos, que se retiram do mundo, porém homens e mulheres que nesse mundo vivem e trabalham, a moral maçônica não é abstrata, mas intensamente prática.

Como em uma Loja estas verdades referentes ao amor fraternal, socorro e verdade se acham expostas em detalhes, e como cada maçom presente a elas lhes presta seu assentimento, essas verdades são facilitadas em sua realização aqueles que não são maçons. Um pequeno corpo de pessoas que ardentemente desejam compreender o que seja a mais elevada moral, intensifica as aspirações morais do mundo inteiro, reunindo-se a portas fechadas. O pensamento é um poder formidável, e quando esse poder é gerado, não por indivíduos separados, porém reunidos, como numa Loja, seu poder é acrescentado em progressão geométrica, de acordo com o número daqueles que cooperam e com a intensidade de sua aspiração. Toda a reunião maçônica, seja de Loja ou Capítulo, torna a compreensão das verdades morais um pouco mais fácil por parte do mundo em geral. Todo o homem que não seja maçom e que deseja saber onde se acha "o Caminho, a Verdade e a Vida", aproxima-se mais de sua meta, pelo fato de um pequeno grupo de seus semelhantes se reunir em segredo para executar seus ritos.

A segunda parte do trabalho que a Maçonaria executa é o de auxiliar a dissipar as nuvens que cobrem as mentes dos homens em relação ao seu futuro, após seus corpos haverem voltado ao pó de que são constituídos. Sobre esta parte do trabalho da Maçonaria moderna, nada posso dizer numa reunião pública; porém, como vos disse, a Maçonaria continua as antigas tradições dos mistérios do Egito e da Grécia, de Israel e da Índia. Em todos esses antigos mistérios, como, por exemplo, nos mistérios de Eleusis, uma parte do trabalho feito em segredo era o de proporcionar ao iniciado a certeza de que, para além do túmulo, semblantes amigos o saudariam e que ele entraria, não em terra estranha, porém na "Grande Loja Eterna", onde todas as coisas lhe serão familiares, por ter trabalhado numa Grande Loja aqui em baixo. Se cada maçom conhecer o que a Maçonaria lhe ensina, não poderá ignorar a imortalidade da alma. Se qualquer ramo da Maçonaria nada fizer para perpetuar a tradição maçônica, estará desperdiçando uma boa parte de seu tempo e de sua energia.

Chego agora à terceira espécie de auxílio que os maçons proporcionam ao mundo. O que direi parecerá coisa nova a muitos maçons, pois existe muito de mera fórmula e pouco de realidade por detrás dela.

No entanto, seja pelo fato de a simples forma ser atrativa, o que é fora de dúvida é de que o maçom devotado à sua Loja acha verdades morais de mais fácil compreensão, que quando essas mesmas verdades lhe são pregadas de um púlpito. Existe, porém, uma admirável realidade por detrás da forma, e é unicamente essa realidade invisível que torna a Maçonaria um tão poderoso fator para o bem do mundo.

Já fiz menção da antiga máxima "o que está em baixo é como o que está em cima". "Em cima" está a consciência de Deus, que sustenta todo o mundo visível e invisível em sua Natureza. Na mente de Deus, o Universo não é qualquer coisa que, uma vez criada, fique para sempre estática. Deus criou o Universo afim de que ele chegue a perfeição, estágio após estágio. Na mente Divina, onde a perfeição última de todas as coisas - homem, quadrúpede, pássaro, planta e rocha se acham decretada, existe uma série de acontecimentos, direcionando todos para a perfeição. Usando o símile de um ritual, na Mente de Deus a todo instante está tendo lugar um acontecimento maravilhoso e belo. É como se um drama perfeito, um ritual inteiramente belo, estivesse sendo representado em Sua Mente, desenvolvendo, por esse modo, o Seu drama de fazer sair a perfeição da imperfeição. Este ritual é a obra de Deus, como Grande Arquiteto do Universo. Ele é o Venerável de Sua "Grande Loja Eterna".

Quando, portanto, aqui na terra, é ordenado um ritual, simbolizando esta eterna seqüência de acontecimentos no drama Divino da Grande "Loja Eterna", então alguns dos poderes dos reinos espirituais são atraídos a terra para servirem de auxílio aos homens.

É esta unidade misteriosa do que está "em cima" e do que está "em baixo" que constitui o significado real da cerimônia da missa, como sabe todo católico místico. A autoimolação de Cristo, que teve lugar uma vez, deve ser comemorada diariamente por todo sacerdote, afim de que o poder de Cristo possa ser atraído para a terra em auxílio dos homens. A história da vida de Cristo, desde o nascimento até a crucificação e todas as estações da cruz, estão sendo representadas a todo instante num reino místico, embora presentemente a dor da tragédia tenha passado para Ele. Como essa história da vida é sempre representada em símbolo (como se faz na missa), o reino do espírito se une ao reino da matéria, e neste símbolo do pão e do vinho desce Deus à terra outra vez para habitar entre os homens.

Assim também se dá com a Maçonaria. O Grande Arquiteto trabalha a todo instante construindo o Templo Perfeito. Quando os maçons trabalham simbolicamente em Loja, para construir um Templo com "Colunas", com três "Pilares", simbolizando a Tríplice Natureza do Grande Arquiteto - Sabedoria, Força e Beleza - os dois reinos do espírito e matéria se unem, e a Grande Loja Eterna envia suas forças espiritualizantes para a Loja aqui em baixo. É por isso que toda Loja Maçônica, ao encerrar sua reunião, distribui suas forças para o mundo. Tal como se dá com um reservatório que haja lentamente captado água de muitas pequenas correntes e por fim transborda, irrigando os campos, assim se dá com uma Loja Maçônica. Os maçons trabalham como instrumentos da "Grande Loja Eterna", pela qual são distribuídas forças para auxiliar os homens.

Temo haver conduzido alguns dentre vós demasiado longe no reino do misticismo; não penseis haver eu elaborado belas teorias tiradas da minha cabeça. Lembrai-vos de que a Maçonaria é muito antiga; A Maçonaria moderna é apenas a última expressão dos mistérios que foram poderosos no Egito, na Grécia e em Israel, e o são ainda na Índia e na China. Muitos maçons modernos cuidam simplesmente da boa camaradagem, que as reuniões e banquetes da Loja lhe proporcionam, Porém entre os maçons há crianças, como também existem os mais velhos e mais sábios. Estes últimos hão de ter já descoberto algumas das misteriosas verdades que se referem ao poder secreto da Maçonaria, os quais vos tenho procurado descrever, sem violar meus compromissos maçônicos.

Há um fato interessante sobre cerimonial maçônico, e é que ele não cansa o indivíduo, quando propriamente executado. Certamente existe uma grande soma de atividade no ritual, nos Oficiais que tem de estar alerta a todo instante. Como atores no placo, tem eles que decifrar suas partes, que são às vezes difíceis para aqueles dentre nós que já ultrapassaram a meia idade e cuja memória está enfraquecida. Se o ritual for executado brilhantemente, como acontece quando todos os que estão presentes conhecem suas partes perfeitamente, uma desusada espécie de vitalidade se verifica na reunião maçônica. Como até o presente tenho servido em diversos cargos, e como trabalhadores mais jovens, tanto mulheres quanto homens, estão se apresentando para continuar o trabalho, posso agora me sentar "no Oriente" como veterano, e vigiar e contemplar.

E esta vigilância e contemplação encerram uma notável fascinação. Muito tive de meditar em assunto espiritual, mas isto me é agora inteiramente familiar. No entanto, ao ouvir as palavras que tantas vezes tenho repetido, observo certas coisas que dúzias de vezes tenho visto, e me aparecem subitamente novas verdades que não havia descoberto antes. Simbolismo e alegoria são duas maneiras pelas quais são ensinadas as verdades superiores aos maçons; eles me são agora familiares, e já instruí a outros o seu significado. Entretanto, agora mesmo, ao sentar-me no "Oriente", o antigo ritual possui uma frescura e beleza que me haviam escapado. O ritual não envelhece, mesmo que se o conheça muito bem. Por outro lado, cada vez que observo seu desenvolvimento, descubro alguma nova verdade quanto à vida e à conduta. Por que é que a Maçonaria não envelhece?

Porque a Maçonaria é uma exposição da vida - a vida que nós temos de viver. Não se trata de um mero cerimonial combinado por alguém que tivesse imaginação dramática. A Maçonaria é uma exposição da vida, justamente como se dá na celebração da missa, que o é igualmente. É porque cada grau da Maçonaria, desde o primeiro até o trigésimo terceiro, é uma exposição da vida, que "uma vez que se seja maçom, sempre o há de ser".

Para terminar, qual é a mensagem da Maçonaria? É a de que cada um de nós deve ser um construtor, trabalhando na ordem hierárquica, de acordo com sua capacidade. Cada um deve contribuir com seu trabalho, crescer por meio dele, afim de se tornar capaz de um esforço maior. Pois a vida não se parece com uma corrente tranqüila que passe vagarosamente entre duas margens; mais se assemelha a uma torrente, cujas águas são dirigidas através de uma estação de força elétrica, para gerar uma corrente que possa ser enviada a fábricas e lares distantes. Somente quando a vida é criadora, gerada por meio da mente e do coração, da intuição e do espírito, é que a vida é verdadeiramente digna desse nome. Transformar a vida afim de criar mais vida - tal é a mensagem da Maçonaria para o franco-maçon. E é por isso que termino com sua prece: "Que Deus preserve a Arte!".

* C.Jinarajadasa, ex-presidente internacional da Sociedade Teosófica.

17 de julho de 2012

Morre Alberto Mansur, o fundador da Ordem DeMolay no Brasil

A Ordem DeMolay se estabeleceu no Brasil graças aos esforços de Tio Alberto Mansur, que tomou conhecimento da Ordem em 1970, em uma de suas viagens aos Estados Unidos, através da leitura do "The New Age - July 1969", comemorativo do cinqüentenário da Ordem DeMolay. Percebendo a suma importância desta Instituição, e a necessidade de preencher uma vital lacuna na Maçonaria brasileira, o sonho de trazer a Ordem DeMolay para o Brasil foi despertado. Após diversos contatos infrutíferos com o Supremo Conselho Internacional da Ordem DeMolay, Alberto Mansur conheceu pessoalmente em 1974, o Soberano Grande Comendador Norte-Americano George A. Newbury, que participava da VII Reunião dos Soberanos Grandes Comendadores das Américas, realizada no Rio de Janeiro, a quem revelou seu desejo de fundar a Ordem DeMolay no Brasil. Logo após Newbury regressar ao seu país ocorreram os primeiros contatos do Supremo Conselho Internacional da Ordem DeMolay com o Brasil. O sonho estava se tornando realidade! Alberto Mansur em seu primeiro relatório oficial como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, anunciava como meta prioritária de sua gestão a criação da Ordem DeMolay no Brasil, iniciando um grande trabalho de divulgação da Ordem em toda a extensão do Território Brasileiro. Passados cinco anos, sem êxito; até que, pela manifestação do destino, Alberto Mansur obteve a felicidade de conhecer em Boston, no ano de 1979, o então Grande Mestre Internacional C. C. "Buddy" Faulkner Jr., grande líder e entusiasta da Ordem DeMolay, que com grande visão, imediatamente confiou em Mansur, autorizando-lhe a fundar a Ordem DeMolay em nosso país, nomeando-lhe, em 06 de março de 1980, Membro do Supremo Conselho Internacional e Oficial Executivo da Ordem DeMolay para o Brasil. Desta forma, foi decidido patrocinar o primeiro Capítulo da Ordem DeMolay no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, sob o patrocínio do Supremo Conselho do R.E.A.A., com o título de Capítulo Rio de Janeiro da Ordem DeMolay. FONTE: IR.'.João Carlos Rodrigues de Menezes(Loja Evolução Nordestina Nº 86 - Juazeiro do Norte -Ce)

http://cavalheirospartanos85.blogspot.com.br/2012/07/morre-alberto-mansur-o-fundador-da.html

30 de junho de 2012

Os Ensinamentos Maçônicos

Os ensinamentos maçônicos devem ser amplamente difundidos entre todos os Maçons e sua metodologia deve ser explicada previamente aos que pretendem ingressar na Ordem Maçônica. Os Mestres deverão estar preparados para a missão devendo expô-la quando da visita de avaliação prévia do pretendente. Esta informação possibilitará ao pretendente saber antecipadamente o que a Ordem poderá lhe oferecer, possibilitando-lhe analisar se realmente a metodologia e o direcionamento dos ensinamentos maçônicos são os que buscam para a sua evolução pessoal. O pretendente ao ingresso na Ordem deve estar convicto de que vai participar de uma sociedade voltada ao aprimoramento individual e que os demais participantes tem a mesma preocupação, o que não os inibe, ao contrário, prepara-os às atividades coletivas. O desconhecimento desse fundamental objetivo dos ensinamentos maçônicos poderá levar o pretendente, após o seu ingresso, ao defrontar-se com posturas pessoais discordantes das suas ou desiludir-se com o que pensou ser a Ordem, desligar-se intempestivamente.

Os ensinamentos maçônicos devem ser transmitidos com a constância e repetições necessárias para o seu perfeito entendimento.
Características dos ensinamentos maçônicos:
– Exclusivamente individual;
– Repetitivo e paulatino; mostra o caminho, mas não exige a caminhada.
– O maçom é um voluntário;

Os ensinamentos maçônicos devem ser constantes, paulatinos e repetitivos para que sejam sempre oferecidos aos recém-admitidos. Os maçons de antigamente não eram letrados e os procedimentos litúrgicos eram memorizados. As funções dos administradores e dos auxiliares eram sempre repetidas no inicio de cada reunião para conhecimento de todos e para a sua preservação. Com o advento dos rituais escritos, este procedimento passou a fazer parte integrante das reuniões, o que perdura até os dias de hoje.

Os ensinamentos maçônicos também estão fundamentados nas práticas cristãs, mas não tem a mesma metodologia de ensino adotado pelas associações cristãs de evangelização. Os ensinamentos maçônicos são voltados ao indivíduo, oferecendo a cada um a oportunidade de evolução pessoal. As associações religiosas evangelizadoras procuram maximizar as suas atividades, priorizando a divulgação dos seus ensinamentos através das pregações em massa. São metodologias de características diferentes e, se não entendidas cada uma no seu contexto, podem tornar-se conflitantes no íntimo de cada estudioso, mesmo ambas tendo o mesmo objetivo: a felicidade do homem.

Evangelização é a pregação do Cristão (a mensagem cristã) e, por extensão, qualquer forma de pregação e proselitismo, com fins de adquirir adeptos, produzir conversão ou mudanças de hábitos, crenças e valores. No cristianismo, a evangelização é o sistema, baseado em princípios e métodos apresentados no Novo Testamento, pelo qual se comunica o Evangelho (Boa Nova) Cristo a (todo) pecador sob a liderança e poder Espírito Santo. Afirma o apóstolo Paulo: “Como crerão em Jesus se ninguém lhes anuncia?” (Rom. 10,14). Está em Atos dos Apóstolos, capítulo 14 14:21: “Depois de pregar a Boa Nova ali, e de fazer muitos discípulos, eles voltaram a…”

O processo de evangelização cristã sempre teve como foco “o outro”. Os costumes, a moral e os valores sociais da sociedade ocidental atual são decorrentes dessa forma de pregação. No ocidente, quase a totalidade dos jovens tiveram a sua formação com base na metodologia evangélica das pregações nas escolas paroquiais levando-os a analisar todos os acontecimentos dentro dessa metodologia, onde se avalia o que pode ser corrigido na atitude dos outros antes de avaliar o que pode ser corrigido em si.

Assim formados desde a infância, não raro passam a avaliar mais como os outros estão agindo do que a suas próprias ações. Na análise de suas convicções e interesses, surgem julgamentos e conselhos para corrigir as atitudes dos outros, conselhos que nem sempre são seguidos por quem aconselha. Na máxima cristã “Ama o próximo como a ti mesmo” não está implícito que o “próximo” tenha que ser “como ti” para ser amado. A fraternidade, o principal ensinamento do Mestre Jesus, resumida na máxima: “Amai-vos uns aos outros”, nem sempre é priorizada nas atitudes. Por formação filosófica, a sociedade ocidental é mais preocupada em oferecer aos outros a oportunidade de corrigir-se do que em corrigir a si própria.

A evangelização e os ensinamentos maçônicos não são conflitantes. A metodologia dos ensinamentos maçônicos é voltada ao aperfeiçoamento do indivíduo, trazendo a tona as suas qualidades latentes e aumentando a sua autoestima, tornando-o consciente da sua capacidade de amar o “próximo” como o “próximo é” e de, pela evangelização, levar-lhe a crença cristã.

O conteúdo dos ensinamentos maçônicos permite-nos afirmar que a Maçonaria é uma escola de aperfeiçoamento exclusivamente individual. Este é o principal fundamento dos ensinamentos maçônicos.

No Grau de Aprendiz, que é o primeiro contato da Ordem com o recém-admitido, é apresentada toda a essência dos ensinamentos maçônicos.

Todos os autores maçônicos referem-se ao simbolismo da “pedra bruta” que deve ser desbastada e preparada para sua utilização na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais fraterna. É comum ouvir do Maçom a expressão: “Estou trabalhando a minha “pedra bruta”, quando se refere aos seus estudos e práticas maçônicas. Dito dessa forma poderá dar margem ao entendimento de tratar-se de dois personagens distintos; o Aprendiz e a “pedra bruta”. Este entendimento é divergente do ensinamento maçônico, pois o Aprendiz é a “pedra bruta”. O Aprendiz é o objeto a ser desbastado.

A direção que se deve dar ao cinzel é a si.

Em nenhum momento, nos rituais maçônicos, há indicação que o cinzel deva ser voltado aos outros. Em si as pancadas no cinzel são dadas de acordo a sua sensibilidade; se nos outros, o agente não colocará no maço o mesmo peso que coloca quando desbasta a si mesmo, certamente seria mais pesado. Não é atitude maçônica direcionar o cinzel para corrigir imperfeições alheias.

Para a Maçonaria são escolhidos os “bons” nas mais diversas atividades humanas oferecendo-lhes a oportunidade de tornarem-se “melhores”

Há diferença entre o aprendiz de pedreiro (maçom) operativo (que trabalhava nas atividades de construção) e o Aprendiz Maçom. Este não tem necessariamente atividade nas construções. A representação do aprendiz de pedreiro operativo é um jovem trabalhando para desbastar uma pedra bruta. Já, as esculturas e os desenhos clássicos representando um aprendiz das escolas de mistérios sempre mostram a figura de um homem esculpindo a si mesmo.

O Aprendiz Maçom, para esculpir a escultura do homem que deseja ser, terá que utilizar a matéria prima que recebeu por desígnio da Providência, potencializar os recursos disponíveis na Natureza e trabalhar com a Vontade representada pelo “maço e o cinzel” utilizados para aparar a arestas que escondem no interior de seu ser o homem perfeito ali contido.

Na Maçonaria, esta confusão entre o aprendiz operativo e o aprendiz admitido por processo de Iniciação pode ser observada em trechos das cerimônias de recepção do candidato. Em alguns rituais maçônicos, o Iniciando à Ordem, ao ser levado para executar a sua primeira lição no desbaste da “pedra bruta”, é orientado para dirigir corte do cinzel à pedra disforme que faz parte da decoração templo, em vez de direcioná-lo a si.

Este procedimento poderá induzi-lo, desde o seu primeiro aprendizado, a intuir que seu trabalho é desbastar o que vê a sua frente (o outro) e não o que está em si. Tendo a pedra bruta do templo como uma representação simbólica de seu estado naquele momento, o Iniciando deveria direcionar o cinzel sobre si e então trabalhar com o maço. A pedra bruta que se encontra na decoração do templo, bem como a pedra polida e prancheta, são as joias fixas que devem estar presentes para o funcionamento da Loja.

Um Maçom é um Obreiro da Arte Real que está concluindo a Obra projetada pelo Grande Arquiteto do Universo, que é Deus. Essa obra é “ele”. Trata-se de uma transformação individual, resultado do seu esforço e da sua vontade pessoal. Esta obra só estará concluída quando ele transformar-se de “pedra bruta” em “pedra polida” e como tal for reconhecido pelos “outros” (os Irmãos, a sociedade, etc..). Não é ele que se avalia como pronto. São os outros que como tal o avaliam. As ferramentas simbólicas maçônicas são instrumentos de uso específico para o desenvolvimento pessoal. Dependendo de como cada Obreiro preparou-se e de acordo com o seu ajuste às necessidades dos projetos da comunidade, será reconhecido pelos outros como adequado àquele projeto. São os outros que avaliarão se a “pedra” poderá ser utilizada ou não nas obras a serem realizadas.

A “pedra” só estará pronta quando não houver necessidade do mínimo ajuste nas pedras vizinhas para o seu perfeito ajuste.

Se houver necessidade de interferir no polimento e características das outras contíguas para o seu ajuste, ela não está pronta. Permanecerá ao lado até que o trabalho de escultura seja refeito de modo que se ajuste às outras pedras, sem que estas precisem de reparos. Se o desbaste está incompleto, é apenas uma pedra no meio do caminho dos que precisarão fazer manobras para evitar que as suas asperezas e seus desajustes possam ameaçar o resultado da obra desejada. A “pedra” ainda bruta certamente ficara em um canto qualquer da sociedade, causando-lhe instabilidade e desarmonia.

O maçom não propõe que os outros mudem para que ele seja feliz, procura mudar o possível em si para que todos sejam felizes. Esta é a essência do ensinamento maçônico.

Está subentendido nos ensinamentos maçônicos a máxima: “O que eu devo mudar em mim para que ele (o próximo) seja feliz”, independente de se o outro é bom ou mau; réu ou julgador. Ser viciado ou virtuoso é uma escolha pessoal de cada um, que ao Maçom não compete julgar ou tomar atitudes para obrigá-lo a proceder de acordo com os valores, sempre pessoais, que crê serem os corretos. Pela lei da “causa e efeito” cada um é responsável por suas ações e pensamentos.

Maçonicamente cada um é responsável pessoal e único pela sua evolução. Os ensinamentos maçônicos oferecerão a oportunidade de correção. Quando concluída será reconhecida como tal pelos outros. Nesta ideia está embutido o conceito de amor universal. O amor fraterno dará aos seus Irmãos maçons a tolerância para aceitarem as tentativas de uma “pedra” ainda bruta para ajustar-se à obra, orientando-a se assim ela desejar, para o seu perfeito desbaste e ajuste. Se as imperfeições permanecerem, a “pedra” não será utilizada, mas sempre lhe será fraternalmente oferecida nova oportunidade de reajuste.

A não ser quando em cumprimento de atividade e funções especificamente instituídas na legislação da Ordem ou da comunidade que pertence, o Maçom não julga e não critica posturas pessoais de outrem. Se solicitado, fará ponderações sobre o solicitante, jamais sobre terceiros. Não é uma atitude maçônica interferir na postura pessoal dos outros, achando que estes devem ou não fazer isto ou aquilo. A cada um cabe reconhecer os que estão em condições de compartilhar projetos comuns e convidá-los.

O Maçom deve formar-se para depois colocar-se ao serviço da comunidade. Aprender e praticar. O desconhecimento dos ensinamentos maçônicos dificulta o relacionamento dos maçons entre si e dos maçons com a Ordem. Quanto menor é o preparo individual, maior será a dificuldade na participação das atividades da Ordem e mesmo fora dela.

Cada Maçom tem a sua individualidade respeitada: sua cultura, seus pontos de vista políticos, suas convicções religiosas e suas características psíquicas. Todo maçom é um homem livre, ciente da capacidade de realizações, um cidadão bem sucedido e respeitado por suas atividades profissionais e sociais que o levam a ser convidado a ingressar na Ordem.

O maçom é um voluntário.

Não é obrigado a fazer qualquer coisa que seja. Ingressou na Ordem por livre vontade e com isso assumiu uma responsabilidade financeira como em qualquer organização, sendo livre para sair a qualquer momento; até que caracterize abandono, frequenta a Loja com a assiduidade que deseja; estuda se quiser; atinge os graus mais elevados se assim o desejar; ocupa cargos que aceitou por que quis: é eleito por que se candidatou; pode mudar de Loja se assim julgar conveniente; nem as contribuições para benemerência são obrigatórias se não aprovadas em assembleias de que participa.

Centralizados no aperfeiçoamento individual, os ensinamentos maçônicos preparam o estudante para o convívio entre diferentes num conjunto harmônico; prepara para a tolerância com os contrários; para o respeito pelas convicções individuais e para a convivência entre atitudes divergentes.

Desbastado de suas imperfeições, o Maçom está pronto para servir à sua comunidade, oferecendo-se quando solicitado ou apresentando sugestões para as mudanças que julgar necessárias para o bem estar e a harmonia da Ordem e ou da comunidade. Como sugestões são opiniões pessoais devem ser tratadas como tal. Se traduzirem as aspirações dos envolvidos, a concretização terá o consenso espontâneo da maioria dos indivíduos e aquele que a propôs certamente será convocado para liderar a sua implantação.

Não é fácil o comando onde os comandados são voluntários e não há recompensa financeira pelo trabalho realizado. O sucesso da empreitada está associado à capacidade de conseguir motivar a maioria para acompanhá-lo. Para a administração de uma sociedade constituída por voluntários há necessidade de lideranças que aglutinem as ansiedades e administrem as diversidades individuais, dirigindo suas energias ao trabalho comum.

A principal característica do líder de voluntários é fazer o que o grupo quer.

Nas sociedades constituídas por voluntários, são os operosos que a fazem atingir os seus objetivos. São raros os casos das organizações que conseguem uma participação efetiva da maioria de seus membros. Geralmente os resultados obtidos são decorrentes de atividades isoladas de membros dedicados. São sempre os mesmos que participam de quase todas as atividades. A comunidade está habituada a conviver e a reconhecer a dedicação daqueles que sempre participam.

É próprio da tradição maçônica o reconhecimento pelos Irmãos. Este é o salário do Obreiro da Arte Real: o reconhecimento. Não há outro salário na Maçonaria. Para o Maçom é gratificante a satisfação da missão cumprida e de ser reconhecido por isso.

Cada um dos Membros reconhece o novo integrante que ingressa na ordem. A Ordem reconhece o trabalho do Maçom que por isso, quando chega a Mestre, recebe um diploma e uma medalha. Não foi sem méritos. O novo Mestre pode não ter tido uma brilhante história, mas atingiu o que desejava. Todos os Maçons sabem quais os que se dedicam e frequentemente os elogiam. É o reconhecimento dos membros de suas Lojas ou de outras a que serviu. Esta é a recompensa que o Obreiro leva de retorno ao seu lar, com uma alegria nem sempre entendida e participada pelos seus familiares.

Quando o trabalho do Maçom extrapola os limites da sua Loja é reconhecido pelos Grandes Orientes com a concessão de diploma ou medalha, como se, na entrega, em nome de todos seus membros aquele Grande Oriente afirmasse: “Como um Maçom operoso os Maçons deste Grande Oriente o reconhecem”.

É próprio do ser humano desejar ser reconhecido pelos seus feitos. O clube social reconhece seu membro pelos muitos anos de apoio e trabalho com a entrega do diploma de Sócio Emérito; o Poder Municipal, em nome de todos os munícipes que o reconhecem como um cidadão participante e premia-o com a entrega do Diploma de Cidadania. Em cada diploma, medalha ou troféu maçônicos recebidos está presente a máxima maçônica: “o reconhecimento de meus Irmãos”.

A falta de divulgação dos feitos que justificassem a homenagem pode gerar uma interpretação duvidosa sobre o seu merecimento. Não há casos da entrega de diploma e medalhas aos que nada fazem. A Maçonaria é uma sociedade justa cuja assembléia é sábia. Os maçons homenageados devem ostentar com altivez as suas medalhas para que os Aprendizes, os Companheiros e os novos Mestres o tenham como exemplo, solicitando-lhe contar a história do conjunto de suas obras, que somado as de outros Maçons “medalhados”, constituem a historia da Maçonaria.

A Maçonaria é o conjunto das ações de seus membros. É o somatório do que cada um dos seus membros é sem representá-los individualmente.

Os Maçons que receberam distinções e homenagens compreenderam o verdadeiro significado dos ensinamentos maçônicos e aplicaram-nos e por isso foram reconhecidos como tal. Há aqueles que criticam os que ostentam nas Lojas as suas muitas medalhas afirmando ironicamente: “eles andam arcados com o peso das medalhas”. Mas, vejamos: os condecorados por seu trabalho voluntário e dedicado têm como alternativa ostentar ou não as medalhas por merecido recebidas.

O pretendente a maçom é conhecido antes de ser convidado a participar da Ordem. A sua admissão é o reconhecimento pelos membros, da sua postura moral, da sua vontade de aperfeiçoamento pessoal e da sua capacidade econômica e financeira para sobreviver. Um conhecido jargão afirma: “Para a Maçonaria são escolhidos os “bons” nas mais diversas atividades humanas oferecendo-lhes a oportunidade de tornarem-se “melhores”.

Ao Companheiro Maçom, conhecedor de todas as ferramentas simbólicas, compete usá-las para construir.

Nos rituais maçônicos não há indicação de que as ferramentas simbólicas devam ser utilizadas para destruir. Se um projeto não atende aspiração pessoal de algum Membro, não quer dizer que não deva ser executado. Se há quem queira realizá-lo e que encontra quem queira auxiliá-lo, certamente o projeto atenderá aspirações de seus executantes. Neste caso, quem não concorda com o projeto, não deve atrapalhar ou impedir a sua execução, respeitando a diversidade e a individualidade das opiniões. Compete à assembleia da Loja a decisão final dos assuntos conflitantes, geralmente resolvidos com justiça, dentro da maior harmonia possível,
O Mestre é o conhecedor dos ensinamentos maçônicos e está apto a ensiná-los. O Mestre é o Companheiro que recebeu um diploma de professor, sendo-lhe transmitidas as Lendas Maçônicas que, como parábolas, serão o instrumento didático adotado para a difusão dos ensinamentos.

A máxima de São Francisco de Assis “é dando que se recebe” representa a essência da responsabilidade do Mestre. O ensinamento esotérico contido nesta máxima refere-se à Dualidade. Tudo o que entra deverá sair para abrir espaço para novas entradas. A capacidade de aprender é aumentada quando é ensinado o que se sabe. Só é “retido” o que é “doado”. O conhecimento fixa-se quando é ensinado. Tudo o que se lê nem sempre é retido na memória, mas uma vez ensinado, jamais será esquecido. Patrick Byrne, em seu livro “O Ouro dos Templários” (Editorial Estampa – Lisboa-2007-pg. 257), cita o ditado que capta a essência do conceito cabalístico: “Quando alguém se deixa penetrar pela luz, mas não a liberta, cria-se uma sombra”.

Recebendo sem distinções os intelectuais, cientistas, religiosos, livres pensadores, inventores e operários, jovens e idosos, para um convívio comum, a Maçonaria tornou-se a depositária de todo conhecimento científico e oculto produzido pelas civilizações em todos os tempos. Instituição de caráter universal, seu Quadro é composto por profissionais de todas as áreas da atividade humana, que colocam os seus conhecimentos à disposição da Humanidade. Esse conhecimento pode ser encontrado nas atividades das Lojas, seja apresentado individualmente por seus membros ou contido no simbolismo e alegorias de seus Graus e Ordens. Compete ao maçom desvendá-los e praticá-los em benefício de sua evolução pessoal e da Humanidade.

Autor: Ir∴ Edison Barsanti, 33º • M∴I∴

http://www.revistauniversomaconico.com.br/tempo-de-estudos/os-ensinamentos-maconicos/

16 de abril de 2012

Alquimia - Novo Blog


Criei um novo blog para postar textos referente a Alquimia, que no momento é meu foco de estudos.
Se quiserem acessar segue o link.



Alquimia e a Maçonaria


ALQUIMIA E A MAÇONARIA

pelo Ven.Irmão Lucas Francisco GALDEANO

Podemos afirmar que o maçom tem contato com a Alquimia nos primeiros momentos em que, como candidato, tem contato com a Ordem. A Câmara de Reflexões indiscutivelmente é um legado alquimista, a sua "decoração" com os elementos água, enxofre e sal, que acrescida do mercúrio são substâncias que constituem a Prima Matéria da Alquimia. A Alquimia é estudada sob três aspectos diversos, suscetíveis de interpretações distintas, e que são: o cósmico, o humano e o terrestre. Elas são representadas pelas três propriedades alquímicas: enxofre, mercúrio e sal. Muitos autores afirmam que há três, sete, dez e doze procedimentos respectivamente, porém, todos concordam em que há apenas um único objetivo na Alquimia, que é a transmutação em ouro dos metais mais grosseiros. Porém, este é apenas um dos aspectos da Alquimia, o terrestre ou puramente material, pois, compreendemos logicamente que o mesmo processo seja executado nas entranhas da Terra. Contudo além desta interpretação, há na Alquimia um significado simbólico, psíquico e espiritual.

Como vimos o alquimista procura simbolicamente ouro, isto nada mais é do que o maçom procura, através da sua opus, transformar a pedra bruta em pedra polida, e que é o aprimoramento moral e espiritual do maçom. Enquanto o alquimista cabalista muitas vezes procura a realização do ouro material, o alquimista ocultista, desdenhando o ouro das minas, volta toda a sua atenção e concentra todos os seus esforços na Divina Trindade do homem que, quando, finalmente se fundem, formam apenas um.

Os planos espiritual, mental, psíquico e físico da existência humana são comparados, em Alquimia, aos quatro elementos: fogo, ar, água e terra, e cada um deles é suscetível de uma constituição tripla, a saber: fixa, variável e volúvel. Aqui temos também um outro elo entre a Maçonaria e a Alquimia, mas precisamente nas três viagens que o recipiendário é obrigado a fazer acrescido da prova da Terra que simbolicamente, é a Câmara de Reflexões, a que nos referimos' anteriormente.

A Maçonaria vê na prova do AR (primeira viagem com seus ruídos e trovões) a representação do segundo elemento primordial que com seus meteoros e contínuas flutuações é o emblema da vida, sujeito as contraditórias variações. Na Alquimia o AR é trabalhado através da operação sublimatio. Ela transforma o material em ar por meio de sua elevação e volatilização. O termo "sublimatio" vem do Latim Sublimis, que significa elevado. Isso indica que o aspecto essencial do Sublimatio é um processo de elevação por intermédio do qual uma substância inferior se traduz numa forma superior mediante um movimento ascendente.

Na Maçonaria a água é o oceano e este é um símbolo do povo, a cujos serviços dedicam-se os verdadeiros maçons. Os homens são as gotas do vasto oceano da humanidade, de que as nações são partes.

Na Alquimia a água é a Prima Matéria, idéia que os alquimistas herdaram dos pré-Sócrates. Pensam os alquimistas que uma substância não poderia ser transformada sem antes ter sido reduzida à Prima Matéria. A água é trabalhada através da operação Solutio, esta provoca o desaparecimento de uma forma e o surgimento de uma nova forma regenerada. No poema abaixo, escrito por Lao Tse, a Maçonaria fala a mesma linguagem que a Alquimia, quando tratam de água:

"O menor dos homens é como a água.

A água a todas as coisas beneficia

E com elas não compete.

Ocupa os (humildes) locais visto por todos com desdém

Nos quais se assemelha ao Tao

Em sua morada (o Sábio) ama a (humilde) terra

Em seu coração ama a profundidade

Em suas relações com os outros, ama a gentileza

Em suas palavras, ama a sinceridade

No governo ama a paz

No trabalho, ama a habilidade

Em suas ações ama a oportunidade

Porquanto não quere-la

Vê-se livre de reparos."

O quarto elemento, o fogo, também une os propósitos dos dois colégios. Para a Maçonaria o fogo cujas chamas sempre simbolizam aspiração, fervor e zelo deve lembrar ao iniciado que este deve aspirar a excelência e a verdadeira glória e trabalhar com dedicação nas causas empenhadas, principalmente as do povo, da pátria e da ordem.

Para o alquimista o fogo é tratado na operação calcinatio. Eis porque toda imagem que contém o fogo Livre queimando ou afetando substâncias se relaciona com a calcinatio. O fogo da calcinatio é um fogo purgador, embranquecedor. Atua sobre a matéria negra, a nigredo, tomando-a branca. Diz Basil Valentine: "Deves saber que isso (a calcinatio) é o único meio correto e legítimo de purificar nossa substância." Isso a vincula ao simbolismo do purgatório. A doutrina do purgatório é a versão teológica da calcinatio projetada na vida depois da morte.

Morte, um tema muito caro para os maçons e alquimistas. Na Maçonaria a morte é tratada de forma muito especial, na Lenda de Hiram que perpassa vários graus da Escada de Jacó. O maçom conhece muito bem estas palavras:... o pó volte a Terra e o espírito volte a Deus que o deu...

Para o alquimista a morte também é um processo, uma continuação que faz parte do trabalho da coagulatio. Esta pertence ao elemento Terra, e costuma ser seguida por outros processos, em geral pela mortificatio e pela putrefactio. Aquilo que se concretizou plenamente ora se acha sujeito à transformação. Tornou-se uma tribulação, que chama à transcendência. Eis como podemos entender as palavras do apóstolo Paulo ao vincular o corpo e a carne à morte: "Quem me libertará do corpo desta morte?... Porque, se vivemos na carne, morreremos; mas se por meio do espírito, mortificarmos os feitos do corpo, viveremos... Porque aquele que vive segundo a carne inclina-se para as coisas da carne. A inclinação da carne é a morte; mas a inclinação do espírito é a vida e paz”.

A identificação do corpo e da carne com a morte deve-se ao fato de que tudo aquilo que nasce no plano espaço-temporal deve submeter-se às limitações dessa existência, que incluem um fim a morte. Esse é o preço do ser real. Uma vez plenamente coagulado ou encarnado, o conteúdo torna-se sem vida, sem maiores possibilidades de crescimento. Emerson exprime essa idéia: "Somente a vida é beneficio, e não a ter vivido. A força cessa no instante do repouso; ela reside no momento da transição de um estado passado para um novo, na voragem do abismo, no arremesso contra o alvo. Eis um fato que o mundo abomina. O fato de a alma vir a ser porquanto isso degrada o passado, tornando todos os bens em pobreza, toda reputação em vergonha, confundindo o santo com o velhaco, varrendo Jesus e Judas para longe, sem distinção.” Realizada a plena coagulatio, vem a putrefactio. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito do espírito ceifará a vida eterna. Um texto alquímico trata do mesmo tema: o leão, o sol inferior pela carne se corrompe... Assim, o leão tem corrompida a natureza por meio da sua carne, que segue os ritmos da lua, e é eclipsada. Porque a lua é a sombra do sol, e com o corpo corruptíveis é consumida; e, por meio da destruição da lua, o leão é eclipsado com auxílio da umidade de mercúrio; o eclipse não obstante, é transmutado tomando-se útil e de melhor natureza, e ainda mais perfeito do que o primeiro.

Em vários graus da Maçonaria o crânio é uma peça importante tanto na representação do grau como na ornamentação do templo para o ritual do grau. Pois bem, na alquimia o crânio como momento mori é um emblema da operação da mortificatio. Ele produz reflexões a respeito da mortalidade pessoal de cada um e serve como pedra de toque para os valores falsos e verdadeiros. Refletir sobre a morte pode nos levar a encarar a vida sob perspectiva da eternidade e, desse modo, a negra cabeça da morte pode transformar-se em ouro. Com efeito, a origem e o crescimento da consciência parecem estar vinculados de maneira peculiar à experiência da morte. Talvez o primeiro par de opostos a penetrar na consciência em vias de despertar dos seres humanos primitivos tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. E provável que somente a criatura mortal seja capaz de ter consciência. Nossa mortalidade é nossa fraqueza mais importante e derradeira. E essa fraqueza, segundo C. G. Jung, foi o elemento que colocou Jó em vantagem diante de IAHWEH.

Esta palavra é muito significativa em alguns graus da Escola Filosófica da Maçonaria (REAA). IAHWEH é o nome da Divindade expressa no Antigo Testamento do Livro Sagrado. Para o alquimista IAHWEH redime e purifica pelo fogo sagrado, daqueles que passaram pela calcinatio: "Não temas, porque eu te resgatei, eu te chamei pelo teu nome, és meu. Quando passares pelo mar, estarei contigo; quando passares pelos rios eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, a chama não te atingirá e não te queimarás. Pois eu sou IAHWEH, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador.

O Juízo final pelo fogo corresponde à provação pelo que testa a pureza dos metais e lhes retira todas as impurezas. Há inúmeras passagens do Antigo Testamento que usam metáforas para descrever os testes que IAHWEH submete seu povo eleito. Por exemplo, IAHWEH diz: "Voltarei minha mão contra ti, purificarei as tuas escórias no cadinho, removerei todas as impurezas." (Isa., 1:24,25)

"E eis que te pus na fogueira como a prata, testando-te no cadinho da aflição. Por causa de mim mesmo e só por mim mesmo, agi - deveria meu nome ser profanado? Jamais darei minha glória a outro." (Isa.,48;10,11)

"Eu os levarei ao fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se testa o ouro. Eles invocarão meu nome e eu escutarei, respondendo: Eis o meu povo; e todos dirão IAHWEH é meu Deus.” (Zacarias 13:9)

O fogo purifica e santifica a matéria bruta e corrompida, os maçons e alquimistas sabem disso, no entanto, o fogo da Senda Sinistra mata e regride a evolução que o ser procura na sua existência. Este fogo nada mais é do que a luxúria, a inveja e ira. Nesta categoria temos a ira que moveu Nabucodonosor, ao destruir o Templo de Salomão. Ele personifica o motivo do poder, a autoridade arbitrária do ego inflamado, que passa pela calcinatio quando suas pretensões irresistíveis são frustradas pela presença da autoridade transpessoal. Nabucodonosor corresponde ao rei alquímico, que serve de alimento ao lobo e depois é calcinado

Conclusão:

A Maçonaria e os maçons com as suas alegorias de construção, como ferramentas: trolha, esquadro, compasso, régua, maço, cinzel; materiais como tríplice argamassa, de forma alguma querem dar a entender que queiram construir algum prédio material - quando assim o querem contratam uma firma especializada - mas sim a construção de um Templo Espiritual à Divindade Maior, o Grande Arquiteto do Universo. É a procura do auto-conhecimento para purificar o ente de cada obreiro, e a partir daí construir a morada do Espírito Santo como falam os cristãos. Essa construção maçônica percorre vários patamares (Escada de Jacó) e à medida que o maçom vai galgando os seus degraus (os graus maçônicos) ele tem um compromisso com a Lei do Karma de estar mais santificado que no patamar anterior. Da mesma forma o alquimista no seu trabalho de manipulação das substâncias não quer dizer que ele queira conseguir ouro material. Alquimia é a ciência pela qual as coisas podem não ser decompostas e recompostas (como se faz em química), mas também sua natureza essencial pode ser transformada e elevada ao mais alto grau ou ser transmutada em outra.

A química trata apenas da matéria morta, enquanto a Alquimia emprega a vida como fator. Todas as coisas têm natureza tríplice, da qual sua forma material e objetiva é sua manifestação inferior. Assim é que, por exemplo, há ouro espiritual, imaterial; ouro astral etéreo, fluído e invisível, e ouro terrestre, sólido, material e visível. Os dois primeiros são, digamos assim, o espírito e a alma do último e, empregando os poderes espirituais da alma, podemos produzir mudanças nele, a fim de que se, tornem visíveis no estado objetivo.

Certas manifestações exteriores podem ajudar aos poderes da alma em sua operação. Porém, sem os segundos, as manipulações serão totalmente inúteis. Portanto, os procedimentos alquímicos podem ser utilizados com êxito unicamente por aquele que é o alquimista nato ou por educação. Sendo todas as coisas de natureza tríplice, a Alquimia também apresenta um aspecto triplo. No aspecto superior, ensina a regeneração do homem espiritual, a purificação da mente e da vontade, o enobrecimento de todas as faculdades anímicas. No aspecto mais inferior trata das substâncias físicas e, abandonando o reino da alma viva e desvenda matéria morta. Termina na química de nossos dias. A Alquimia é um exercício do poder mágico da livre vontade espiritual do homem e, por esta razão, pode ser praticada apenas por aqueles que renascem espiritualmente.

Por último, passarei a palavra final aos alquimistas, ao citar, in toto, seu texto mais sagrado. A Tábua da Esmeralda de Hermes. Via-se esse texto “como uma espécie de revelação sobrenatural aos filhos de Hermes, feita pelo patrono e sua Divina Arte”. De acordo com a lenda, a tábua da Esmeralda foi encontrada no túmulo de Hermes Trismegistus, por Alexandre o Grande, ou, em outra versão, por Sara, a esposa de Abraão. A princípio, só se conhecia o texto em latim, mas, em 1923, Holmyard descobriu uma versão árabe. É provável que um texto anterior tenha sido escrito em grego e, segundo Jung tinha origem alexandrina. Os alquimistas o tratavam com veneração ímpar, gravando suas afirmativas nas paredes do laboratório e citando-o constantemente em seus trabalhos. Trata-se do epítome críptico da opus alquímica, uma receita para segunda criação do mundo, o unus mundus

A TÁBUA DA ESMERALDA DE HERMES

1. Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito.

2. Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e àquilo que está em cima é igual àquilo que está em baixo, para realizar os milagres de uma só coisa.

3. E, assim como todas as coisas se originam de uma só, pela mediação dessa coisa, assim também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação.

4. Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre; sua ama é a terra.

5. Eis o pai de tudo, a complementação de todo o mundo.

6. Sua força é completa se for voltada para dentro (ou na direção) da terra.

7. Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.

8. Ela ascendeu da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo, toda a treva fugirá de ti.

9. Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo sólido.

10. E assim o mundo foi criado.

11. Daqui as prodigiosas adaptações, à feição das quais ela é.

12. E assim sou chamado HERMES TRISMEGISTUS, tendo as três partes da filosofia de todo o mundo.

13. Aquilo que eu disse acerca da operação do sol está terminado.

Divagações sobre o Iniciado.

Interessante que muitas vezes tentamos enterrar aquilo que somos em vez de entender como chegamos a determinado ponto, do que somos feitos e entender para onde vamos.
Com certeza desenterrar os demônios e enfrenta-los não é tarefa fácil. Assim vejo toda e qualquer iniciação.
Ela nos aterroriza, pois nos coloca frente a frente com nossos medos e limitações, expõem nossas fraquezas e nos torna mais humildes pois entendemos que por mais distinção que criemos, somos em essência todos iguais.
Não sendo o iniciado melhor que qualquer outra pessoa sabe que o calar é mais eloquente que a tola discussão e palavras vazias de sentido e proposito, então ele trabalha. Trabalha em si desmontando peça por peça sua personalidade, seus credos suas convicções. Analisa cada parte e o todo, destrói e constrói, cria, aniquila e renasce.
Ele precisa terminar sua tarefa, pois uma vez iniciada esta jornada ela é sem volta.
Não se pode espiar pelas frestas do portal que se põem em nossa frente sem ter que pagar por isso, e só os destemidos apos se depararem com a doce loucura de estar aqui e estar lá continuarão a marcha. Tolos. Somos todos tolos, todos os que ingenuamente buscam pelos caminhos desconhecidos a chama com a qual poderão acender sua própria lâmpada. Temos a faísca, mas não temos o fogo e só os tolos buscam este fogo para serem consumidos por ele.
Não se pode tentar entender algo sem fazer parte daquilo que se observa. O espectador sempre será um expectador e um iniciado nunca será um pacato ouvinte e um manso cordeiro. Ele busca o desafio, pois não existe merecimento na inercia e a roda precisa girar. Torres precisam ser conquistadas, exércitos derrotados e novas terras precisam ser conhecidos. Não se pode sentir o calor do sol por uma simples imagem, é preciso estar lá.
São dois os campos de batalha, um abaixo de seus olhos para lhe lembrar humildade, e outro acima de ti para lhe lembrar que deves sempre buscar mais e mais acima.
Um campo de batalha dentro de seu peito, em seu coração, onde as emoções precisam ser controladas, entendidas e medidas.
Outro campo de batalha esta em sua cabeça no seu discernimento, na sabedoria, no conhecimento e na imaginação que o fara viajar por paragens nunca antes vistas.
Os dois campos devem ser conquistados ao mesmo tempo, pois não se pode equilibrar uma balança somente por um de seus pratos nem é possível ser sem conhecer, entender e experimentar.

Eu fui eu sou e eu serei.
Eu erro, eu errei e errarei.
Eu busco e buscando continuarei.

Cristiano S. G. de Castro.

Grande Oriente Alquímico


Amado Irmão, deixa-me advertir-te que nada tens a ver com a sublimação do enxofre, do mercúrio, a solução dos corpos ou a coagulação dos espíritos ou com os inumeráveis alambiques que trazem pouco lucro à verdadeira arte. Enquanto não buscares a verdadeira essência da natureza, teus trabalhos estão fadados ao fracasso. Portanto, se queres ter sucesso, tens que, de uma vez por todas, renunciar à tua obediência àqueles métodos e alistar-se sob os padrões daquele método que procede em estrita obediência ao ensinamento da Natureza. Quem tiver ouvidos, ouça!


Alquimista Anônimo de 1677