3 de dezembro de 2010

O que pedir como Maçom?

Grande Arquiteto do Universo que me permitiste que como Maçom, vislumbrasse um pálido clarão da tua Luz ao ingressar nos "Mistérios".
Ajuda-me, pois, a iluminar os caminhos que abristes para mim, para aqueles que agora acompanho e para outros que talvez um dia me seguirão.
Que eu possa refletir sobre o golpe do Teu malhete e o perfeito desbaste do Teu cinzel, para que toda a minha individualidade reflita sem equívocos a tua vontade. Fizeste-me Maçom. Por isso "morri" e despertando "renasci".
Ensina-me a humildade na crítica, sobretudo ao ser criticado, para que através de mim, todos entendam e aceitem que a humildade é uma das tuas essências. Instrui-me nas virtudes da Paciência, da Tolerância e da Alegria.
Para que eu possa aceitar os outros como são, mesmo que isso me pareça à tarefa mais árdua, a viagem mais penosa ou a taça mais amarga. Dá-me muito antes, da sabedoria de Salomão a paciência de Jó, para que a minha palavra seja sempre proferida para bem da Humanidade.
Sou uma pedra bruta, bem o sei, mas não inanimada, pois posso mover-me. Indica-me, pois a direção do teu golpe, cinzela as minhas arestas e assenta-me na construção do templo Universal que desejas e contra cujas Colunas tantos lutam com insensata cegueira.
Amplia o meu conhecimento, reforça a minha fé e a minha coragem e faz ressoar a minha alegria. Dá-me a convicção dos meus ideais, alimenta o meu corpo e abre-me o teu insondável caminho. Concede-me a graça de te descortinar em tudo e em todos.
Pois só assim poderei ser justo e perfeito. E no dia em que me apresentar perante Ti, no momento da Iniciação no Oriente Eterno, que as minhas mãos senão cheias estejam calejadas do trabalho efetuado por amor a Ti, com os meus olhos senão cegos por Tua Luz ao menos voltados em tua direção.
Que eu possa também antes de cruzar as Colunas em direção ao Oriente Eterno, olhar a marca de todos os meus passos e atos sem me envergonhar do pouco que tenha caminhado ou feito.

Assim Seja.

15 de outubro de 2010

Reflexões de Fernando Pessoa sobre a Maçonaria

(…) Iniciar alguém, no sentido hermético, é conferir-lhe conhecimentos que ele não poderia obter por si, quer pela leitura de livros, quer pelo exercício da sua inteligência, por forte que ela seja, quer pela leitura de livros à luz dessa mesma inteligência. (…)

(…) É essencial em primeiro lugar, que o profano seja, de índole e mentalidade, um simbolista, isto é, um indivíduo para quem os símbolos são coisas, vidas, almas e para quem paralelamente as coisas e os homens tenham, em certo modo, a vida irreal e analógica dos símbolos. (…)

(…) Aquilo a que se chama “Iniciação” é de três espécies: Há, primeiro, e no nível ínfimo, a Iniciação exotérica, análoga à Iniciação Maçónica, e de que esta é o tipo mais baixo: É a Iniciação dada a quem propriamente se não encaminhou para ela, nem para ela se preparou, e que serve para pôr o indivíduo em condições de poder dar-se o caminho exotérico de poder buscar, pelo contacto, embora exotérico, com símbolos e emblemas, o verdadeiro caminho. O mais exterior e nulo dos sistemas iniciáticos – como é hoje a Maçonaria – serve este fim, logo que tenha conservado os símbolos pelos quais em nós se infiltra o primeiro conhecimento do oculto. (…)

(…) A Maçonaria é um esquema simbólico, através de cuja linguagem, uma vez gradualmente compreendida, certos conhecimentos se vão obtendo, que fariam pasmar os Maçons vulgares, ainda os de alto grau. Ora os dirigentes superiores da Maçonaria forçosamente são aqueles que entendem e usam o que está contido nesses símbolos. E o que está contido nesses símbolos são os ensinamentos comuns à Cabala e ao chamado Budismo Esotérico. (…)

(…) O Templo de Salomão é a alma humana. A sua expressão interna e suprema. O Mestre Hiran, é morto pelos três assassínios. O Mundo (o desejo dos outros), a Carne (o desejo de si) e o Diabo (o desejo de mais que si) e é este último que dá ao Mestre na fronte o golpe mortal. A Grande Obra é o elaborar em nós no sentido estrito e pessoal, a transmutação do chumbo do nosso ser perecível no ouro do nosso ser que não parece. (…)

(…) São três os caminhos da Iniciação – pela emoção, pela vontade e pela inteligência (ou seja pelo enxofre, pelo sal, e pelo mercúrio). A Iniciação pela emoção adquire-se pela imersão em qualquer religião e pelo misticismo que haja nela. A Iniciação pela vontade adquire-se pertencendo a uma Ordem Iniciática qualquer, a Iniciação pela inteligência faz-se solitariamente, sem contacto fluido ou sólido com qualquer religião ou ordem, o único contacto é aquele, angélico com os Superiores Incógnitos. (…)

(…) A expressão “Vale” de que se usa para definir um lugar de instituições maçónicas é um acto de humildade e verdade, que a Ordem seguiu por indicação superior. É a definição da baixa qualidade da iniciação que ela ministra, em relação à alta iniciação nas altas Ordens onde é referida sempre uma montanha, seja a de Heredon seja a de Abiegno. Pode ser que estas coisas nunca houvessem sido combinadas em palavras, mas ficaram certas nos factos. (…)

(..) No último e excelso sentido a Loja é o Arcano ou a arca da Verdade. O Mestre e os Dois que estão com ele no governo da Loja são o símbolo das três verdades fundamentais ou Cabalísticas. Os Dois que, com estes três, formam os Cinco que completam a Loja são o símbolo dos princípios externos ou de relação, por meio dos quais a Verdade é o único que conta (…).

(…) Os últimos dois princípios pelos quais a Loja se torna perfeita são: O que está em cima é como o que está em baixo, e Quando o discípulo está pronto o Mestre está pronto também. (…)

(…) E é evidente para todos que desde que a Palavra se perdeu, quantos maus caminhos e fingimentos de caminhos surgiram.
Os que mentem, mentem por devoção a um anseio de busca. Ainda os que viciam, viciam para fingindo que encontraram, e satisfazerem a sua sede de encontrar. O filtro da Palavra Perdida tornou-os seus amantes, e seguem atrás dela como cavaleiros errantes sem dama certa, por vias e florestas de sonho e erro, na eterna selva escura do conhecimento imperfeito. (…)

(…) É impossível chegar a qualquer entendimento íntimo da Maçonaria sem ter conhecimento da chamada Ciência Hermética, que vai desde as especulações hiper-metafísicas da Cabala até às semi-metafísicas da Astrologia. Se um Maçon, por instruído que seja no que é pensamento maçónico e meditador que tenha sido da simbólica da sua Ordem, não tiver levado os seus estudos até aos vários ramos da Ciência Hermética – alguns dos quais sem relação alguma aparente com a Maçonaria – ficará perenemente um profano de dentro. (…)

(…) Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criados outros Universos, e que esses Universos coexistam com o nosso interpenetradamente ou não. Por essas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão “Deus”, dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer “Grande Arquitecto do Universo”, expressão que deixa em branco o problema se Ele é Criador, ou simples Governador do Mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, podemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. (…)

http://www.gremiolusitano.eu/?page_id=89

Encontrando Falhas

Isa Ibn Abdulwahab Al-Hindi manteve largas e freqüentes conversações durante anos, sobre qualquer tema imaginável.
Um dia, certo sheik muito respeitado foi visitá-lo e lhe disse:
- Meu coração está pesado, porque me disseram que me tens criticado em muitas ocasiões.
Isa disse:
- Eu disse vinte vezes que há grande diferença entre tuas palavras e tuas ações. Podes duvidar de que isto é verdade?
O sheik respondeu:
- Gostaria de escutar as bases sobre as quais fundas minha culpa.
Isa falou:
- As conhecerás no momento em que reconheças que em duzentas ocasiões o tenho louvado diante das mesmas pessoas que agora, em nome da exatidão, busca separar-nos. Dizer a metade da verdade é igual a não dizer nada. Dizer somente a décima parte da verdade é igual a mentir.

http://www.sertaodoperi.com.br/poesiasufi/domes.htm

A Linguagem dos Pássaros

Um grupo de pássaros desejava encontrar a seu rei; então pediram à poupa sábia (um pássaro com crista em forma de abano) que lhes ajudasse em sua busca. A poupa lhes disse que o rei que estão procurando se chama Simurgh (que significa em persa “Trinta Pássaros”) e que vive escondido na montanha de Kaf, porém é uma viajem muito difícil e perigosa. Os pássaros imploram à poupa que os guie. A poupa aceita e começa a ensinar a cada pássaro de acordo com seu nível e temperamento. Ela lhes diz que para alcançar o alto da montanha, necessitam atravessar cinco vales e dois desertos; quando tiverem passado o segundo deserto, entrarão no palácio do rei.
Os de vontade débil, temerosos da viagem, começam a por desculpas. O louro, que é egocêntrico e egoísta, diz que no lugar de ir em busca do rei, buscará o Santo Gral. O pavão real, a ave legendária do paraíso, exclama que tem sonhado que voltará ao céu e que vai esperar pacientemente esse dia. A pata, se lamenta porque sua vida depende de estar próxima da água e morreria se si separasse dela. A garça tem uma desculpa similar; não lhe é possível viajar longe do mar, porque seu amor pela água é tão grande que, embora permaneça sentado durante anos à sua margem, não tem ousado beber nem uma gota, se não o mar acabaria sem água. A coruja declara que prefere ficar e buscar as ruínas com a esperança de encontrar um tesouro algum dia. O rouxinol diz que não necessita viajar, porque está enamorado da rosa e este amor é suficiente para ele. Possui os segredos do amor que nem outra criatura tem; e com uma voz maravilhosa canta ao amor:
- Conheço os segredos do amor. Toda noite derramo meu canto de amor. A música mística da flauta se inspira em meu lamento, e sou eu quem faz desabrochar a rosa e comover os corações dos namorados. Ensino mistérios com minhas tristes notas, e quem me ouve se perde em êxtase. Ninguém conhece os meus segredos, unicamente a rosa. Tenho me esquecido de mim mesmo e só penso na rosa. Alcançar a Simurgh está acima de mim! O amor da rosa é suficiente para o rouxinol!
A poupa que escutou pacientemente responde ao rouxinol:
- Tu estás preocupado com a forma exterior das coisas, pelos prazeres de uma forma sedutora. O amor da rosa tem lançado espinhos a teu coração. Não importa quão grande seja a beleza da rosa, se desvanecerá em poucos dias; e o amor a algo tão passageiro só pode causar repulsa ao perfeito. Se a rosa te sorri é só para enxerte de dor, porque ela rir-se de ti a cada primavera. Abandona a rosa e seu quente calor.
A poupa deleita os pássaros com maravilhosas histórias daqueles que têm feito a perigosa viagem.
Depois de ter ouvido as histórias da poupa, os pássaros estão inspirados para começar sua viajem até o primeiro vale.
Entretanto, logo começam a ter problemas, e se dão conta de que o caminho vai ser mais difícil do que haviam imaginado. Alguns voltam a por desculpas. Um afirma que a poupa não é suficientemente sábia para conduzi-los. Outro se queixa que satanás lhe tem possuído e lhe está pondo as coisas difíceis. E outro expressa seu desejo de ter dinheiro e a comodidade de uma vida de luxo.
Finalmente, a poupa decide que a única forma para que os pássaros compreendam, é descrever-lhes os sete vales e desertos da viajem. O primeiro é o Vale da Busca. Aqui se busca a Verdade com inquietude, diz a poupa. Com constância, se busca um significado maior ao propósito da vida. Só um buscador com dedicação pode atravessar a salvo o primeiro vale e ir ao segundo, o Vale do Amor. Aqui se sente um desejo ilimitado de ver ao Rei Amado. Um fogo abrasador começa a crescer no coração e se faz devastador. O lugar é mais perigoso que o primeiro vale, porque há obstáculos no caminho para por a prova o amor. Entretanto esse mesmo amor impulsiona ao buscador sair do vale e ir até uma terra mais alta: o terceiro vale, o Vale do Conhecimento. Uma vez que se entra nesta terra, o coração se ilumina com a verdade. Se adquire aqui o conhecimento interior do Amado. Deste lugar o viajante continua a viajem ao Vale do Desapego, onde perde seus desejos de possessões mundanas. Não existe ataduras com o mundo material para o viajante que atravessa esse vale; liberado dos desejos agora o aspirante é completamente independente.
Cada novo lugar que o buscador encontra é mais perigoso que o anterior e deve ser explorado passo à passo, porque cada um contém suas próprias provas e dificuldades. Assim, cada encontro com uma terra diferente é uma experiência nova.
O quinto vale é o Vale da Unidade. O viajante experimenta nele que todos os seres são unos em essência, que toda variedade de idéias, experiências e criaturas da vida tem realmente uma só fonte.
O viajante chega ao Deserto do Medo. Então se esquece da existência de si mesmo e de todos os demais. Vê a luz, não com os olhos da mente, sim com os olhos do coração. A porta do divino tesouro, o segredo dos segredos, se abre. Nesta terra, o intelecto já não funciona. Aqui se pergunta ao viajante quem é e o que és, responde: “Não sei nada.”
Finalmente chega ao Deserto do Aniquilamento e da Morte. Neste ponto, o aspirante entende finalmente como uma gota se funde no oceano da unidade com o Amado. Tem encontrado o destino da viajem para encontrar ao rei.
Depois de ouvir a descrição da poupa sobre o que lhes espera, os pássaros se animam tanto que imediatamente continuam sua viajem.
No caminho alguns morrem pelo calor e se jogam no mar. Outros se cansam e não podem continuar; um grupo é caçado por animais selvagens e outros mais se distraem tanto pelo atrativo das terras que atravessam, que se perdem e ficam para trás. Só trinta alcançam seu destino: a montanha de Kaf.
No palácio real, o guarda da entrada trata cruelmente os trinta pássaros. Mas os pássaros, que têm passado o pior, são tolerantes e não se permitem sentir-se molestados por sua dureza. Finalmente, o servidor pessoal do rei sai e conduz os pássaros ao salão real. Ao entrar, os pássaros olham tudo assustados. Não sabem o que ocorre, porque no lugar de ver a Simurgh, “Trinta Pássaros”, tudo o que vêm é... Trinta Pássaros.
Finalmente compreendem que, olhando-se a si mesmos, têm encontrado ao rei, e que em sua busca do rei, têm encontrado a si mesmos.
Os que atravessam as sete cidades do amor se purificam. Quando chegam ao palácio real, encontram ao rei que se revela a seus corações.

"Fariduddin Attar"
(extraído do livro: História de la Tierra de los Sufíes)

Utopia - assistam até o fim...

6 de outubro de 2010

Um Maçom no Inferno

Certa vez, perguntaram para um sábio MM:

Por que existem IIr.’. que saem facilmente dos problemas mais complicados, enquanto outros sofrem por problemas muito pequenos, morrem afogados num copo de água?

O sábio MM sorriu e contou esta história…

“Era um IIr.’. que viveu toda sua vida, fiel às palavras do GADU (Grande Arquiteto do Universo), quando passou para o Or.’. Eterno, todos os IIr.’. disseram que ele iria para o céu. Um Ir.’. tão bondoso, caridoso,estudioso, cumpridor dos seus deveres só poderia ir para o céu e ficar ao lado do GADU.

Mas houve um erro em sua chegada ao céu.

O Anjo Ir.’. da secretaria que o recebeu, deu uma olhada rápida em suas pranchas, e como não viu o nome do Ir.’. na lista de Obreiros, lhe orientou para ir ao Inferno.

Disse: “No inferno, você sabe como é, ninguém exige carteirinha com CIM, qualquer um é convidado a entrar”

Assim o Ir.’. foi resignado, entrou e ficou lá.

Alguns dias depois o Diabo chegou furioso às portas do Paraíso, para tomar satisfações.

"Isto não é Justo nem Perfeito! Nunca imaginei que fossem capazes de uma coisa como essa.”
O Diabo, transtornado, desabafou:

“Vocês mandaram aquele Ir. ‘. para o inferno, ele está fazendo a maior bagunça lá. Ele chegou escutando as pessoas, meditando e refletindo numa tal pedra bruta, olha nos olhos delas, fala sobre vigilância e perseverança, cavar masmorras aos vícios, agora esta todo mundo dialogando, se abraçando, dizendo coisas horríveis como fraternidade, igualdade, liberdade, o Inferno
esta parecendo o paraíso.”

Então fez um apelo: “Por favor, pegue aquele Ir.’. e traga-o para cá!”

Quando o Sábio MM terminou de contar esta história olhou carinhosamente e disse:

Viva sempre com tanto amor no coração que se, por engano, você for parar no inferno, o próprio demônio lhe trará de volta ao Paraíso.

Os problemas fazem parte da nossa vida, porém não deixe que eles o transformem em uma pessoa amargurada. As crises vão estar sempre se sucedendo, testando nossa natureza e as vezes você não terá escolha. Enfrente de coração aberto, com amor e doçura, empregue seu conhecimento, seu estudo, se você não tiver estudo nem conhecimento, reveja seus conceitos e se for necessário retorne ao processo onde você teve que morrer para renascer e comece a construir o seu templo interior novamente, nunca é tarde demais para recomeçar.


Autor desconhecido - Recebido por e-mail

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26 de setembro de 2010

Quinta de Regaleira





A Quinta da Regaleira
Quarta, 27 Agosto 2008
O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais comum da Quinta da Regaleira. Também é designado Palácio do Monteiro dos Milhões, denominação esta associada à alcunha do seu primeiro proprietário, António Augusto Carvalho...

Aprender a Voar...

18 de setembro de 2010

Prece Maçônica

Senhor, Grande Arquitecto do Universo!
Permitiste-me que, como Maçom, eu pudesse vislumbrar um
pálido clarão de Tua Luz ao ingressar nos Mistérios.

Ajuda-me, pois, a ser também luz para iluminar os caminhos
que abristes para mim, para os que agora acompanho e
para os que talvez um dia me seguirão.

Que eu reflicta em cada traço de meu corpo - veículo perecível
e transitório - e de meu espírito - essência imortal, a justa medida
do golpe do Teu Maço e o perfeito desbaste do Teu Cinzel, para
que toda minha individualidade reflicta inequivocamente Tua Vontade,
Tua Lei, Teu Desejo incontido e incontível de Criação.

Fizeste-me Maçom. Para isso morri, despertaste-me, renasci!
Estende-me, pois, Vontade Suprema, o verdadeiro sentido da
mansidão fraterna nos gestos, nas atitudes e no falar, para que por
mim honra e glória sejam dadas a Ti, Criador, não à criatura.

Ensina-me a humildade na crítica, sobretudo ao ser eu o criticado,
para que através de mim todos entendam e aceitem que a
humildade é uma de Tuas Essências.

Instrue-me nas virtudes da Paciência, da Tolerância e da Alegria.
Concede-me as chaves de suas portas para que eu possa confessar ao
mundo minha crença em Teus Desígnios tanto em juramento quanto
em acções, cada dia de minha vida.

Ajuda-me, Supremo Ordenador, no desenvolvimento da capacidade
de aceitar os outros como são, mesmo que isso me pareça a tarefa mais
árdua, a pedra mais bruta, a viagem mais penosa ou a taça mais
amarga, pois melhor que aqueles que um dia me conduziram diante de Ti,
conheces a verdadeira contextura deste seixo pequenino que sou
e como é discutível o meu julgamento humano.

Dá-me, bem antes da sabedoria de Salomão, a aceitação
de Jó para que minha palavra seja sempre voltada
para o bem de meus irmãos universais.

Sou pedra bruta, bem o sei, mas não inanimada
pois posso mover-me. Indica-me, então,
a direcção do Teu Golpe. Cinzela minhas arestas
e assenta-me na construção do Templo Universal
que Desejas e contra cujas Colunas tantos lutam
em insensata cegueira.
Amplia o alcance de meus braços, aumenta minhas forças, abra-me
o conhecimento, reforça minha fé e minha coragem,faça ressoar minha alegria, dá-me a convicção por
meus ideais, alimenta meu corpo, abra-me Teus
Caminhos e desapega-me de mim mesmo. Deixa-me ver a Ti sempre,
em tudo e em todos; jamais, contudo, assim o peço, que seja por
mim mas por meus irmãos.

Pois é somente assim que poderei ser justo e perfeito Maçom; é somente
assim que poderei apresentar-me diante de Ti, no
momento da Iniciação no Oriente Eterno, com minhas mãos
senão cheias ao menos calejadas do trabalho por amor
a Ti; com meus olhos senão cegos por Tua Luz ao
menos voltados em Tua direcção.
De nenhum outro modo, senão assim, poderei chamar-Te de Pai
Criador, reconhecer-Te sinceramente como a Vontade
Suprema na ordem perfeita do Universo,
erguer meus olhos para Ti sem ofender-Te,
pedir-Te sem barganhas hipócritas, oferecer-Te o
melhor de mim sempre e unir-me a Ti como a chama
que retorna ao lenho do qual partiu, na união final que
dispensa explicações.
Mas, ainda Te peço algo mais, Senhor dos Mundos!

Que eu possa, antes de cruzar as Colunas do Oriente Eterno,
olhar a marca de todos os meus passos e actos sem envergonhar-me
do pouco que tenha caminhado ou feito, se nesse pouco tenha podido
lapidar uma única pedra que seja e que meus irmãos universais,
ao passarem pelo lugar de meu último repouso, consigam
ver na soma de tudo o que pude ser ou fazer um
pequenino fragmento de Tua Presença.

Assim seja!

Irm António Carlos de Souza Godoi - A:.R:.L:.S:. Nove de Abril de Mogi Guaçu
Or:. de Mogi Guaçu - SP.
http://www.rlmad.net/arquivoblog/51-poesmac/392-prec-mac.html

Vejo que tens viajado muito, Irmão

Onde quer que possas estar,
Onde quer que te detenhas a meditar,
Seja longe, em terras estranhas,
Ou simplesmente no lar, doce lar,
Sempre sentes um grande prazer,
Que faz vibrar as cordas do coração,
Apenas em ouvir a fraterna saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão!”

Quando recebes a saudação do Irmão
E ele te toma pela mão
Isso comove-te e toca-te no íntimo
Numa emoção incontida, por demais profunda.
Sentes que aquela união de Irmãos,
Que é um anseio da humanidade inteira,
Que se realiza no estender das mãos
E na voz a dizer fraternalmente:
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E se és um estranho,
Solitário em estranhas terras,
Se o destino te deixou derreado,
Batido e à beira da morte, longe do lar,
Não há sentimento mais completo
Que aquele que te sacode sob a saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E quando chegar, finalmente, tua derradeira hora,
O momento de empreender a mais longa das viagens,
Revestido do branco avental de cordeiro
E sob a a escolta dos Irmãos que já passaram,
O Guarda Interno da Porta de Ouro,
Com Esquadro, Régua e Prumo
Pedir-te-á a Palavra de Passe
E dir-te-á, então,
“Passa. Vejo que tens viajado muito, Irmão”

Autor: desconhecido, do Oriente de Montana - USA

Retirado do site: http://www.rlmad.net/arquivoblog/51-poesmac/96-vejo-irmao.html

Sleeping Sun

19 de agosto de 2010

Desiderata

Desiderata

Viva tranqüilamente, por entre a pressa e os ruídos, e lembre-se de quanta paz há no silêncio.
Tanto quanto possível, sem se render, esteja em bons termos com as pessoas.
Diga sua verdade calma e claramente, e ouça os outros, mesmo os mais medíocres e ignorantes, eles também têm a sua história.
Evite as pessoas espalhafatosas e agressivas, pois essas são um insulto ao espírito.
Não se compare com os outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, e saiba: sempre haverá pessoas melhores e piores que você. Desfrute tanto de suas realizações quanto de seus planos.
Cultive seu trabalho, mesmo que ele seja humilde; esse é um bem real, frente às variações da sorte. Seja cauteloso em seus negócios, pois o mundo é cheio de armadilhas. Mas não deixe que isso o torne cego para a virtude, que está sempre presente; muitas pessoas lutam por ideais nobres e, por toda a parte, a vida é sempre exemplo de heroísmo.
Seja sempre você mesmo. E sobretudo nunca finja afeição. Nem seja cínico em relação ao amor, pois, apesar de toda a aridez e desencanto, ele é tão perene quanto a relva.
Aceite serenamente os ensinamentos do passar dos anos, renunciando suavemente àquilo que pertence à juventude. Fortaleça seu espírito para que ele possa protegê-lo diante de uma súbita infelicidade. Não antecipe sofrimentos pois muitos temores são apenas fruto do cansaço e da solidão. Mesmo seguindo uma disciplina rigorosa, não seja tão duro consigo mesmo.
Você é filho do Universo, tanto quanto as árvores e as estrelas; e tem o direito de estar aqui. E mesmo que isso não seja muito claro para você, não tenha dúvida de que o Universo segue na direção certa.
Portanto, esteja em paz com DEUS, não importa a maneira como você O conceba, e sejam quais forem as suas lutas e aspirações, na terrível confusão que é a vida, fique em paz com sua alma.
Pois, apesar de toda a falsidade e sonhos desfeitos, este ainda é um lindo mundo. Seja cauteloso. Lute para ser feliz.


Max Ehrmann (Terre Haute, Indiana, 26 de Setembro de 1872 ? 9 de Setembro de 1945) foi um filósofo, poeta e advogado norte-americano, mais conhecido pela autoria do poema Desiderata.

30 de maio de 2010

Regularidade e Reconhecimento - Parte II

MAÇONARIA
REGULARIDADE E RECONHECIMENTO
15.2 - 2ª PARTE

Não foi a criação de uma Grande Loja e posteriormente outras denominações surgidas, que fez as lojas maçônicas abdicarem da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, foi o poder exagerado passado aos grão-mestres, independente da potência ou obediência. O grão-mestre não tem culpa do poder que lhe foi outorgado.
Hoje, a maioria dos Veneráveis Mestres vive de bater malhetes, sem noção do poder decisório de uma loja, poucos são, os que conhecem o que é ser Venerável. Não existe uma escola de formação de veneráveis, que possa lhes passar tal conhecimento. Chega-se ao grau de mestre, sem um sistema de ensino, quem quer obter conhecimento tem que se tornar um autodidata. A história da fundação de uma das maiores potências conhecida, a Grande Loja da Inglaterra, hoje, Grande Loja Unida da Inglaterra, é desconhecida de quem não pesquisa, e não procura se atualizar. É simples adquirir o conhecimento, a internet tornou tudo acessível.
Antigamente se admitia em lojas, a presença de um capelão e um médico, sem que estes tivessem sido iniciados, eles tinham o dever de manterem discrição sobre o que acontecia nas lojas. Em 1717, um pastor presbiteriano que não era iniciado, e que participava de uma loja especulativa em Londres, teve a sua entrada vedada em uma loja operativa, pois, ele não soube informar quais eram as palavras que lhe dariam acesso em reuniões, tendo então sido revelado que ele era capelão em uma loja e que não havia passado pela iniciação, seu nome: James Anderson (1679 – 1739), então, sob sua influência, criou-se a Grande Loja de Londres, tendo ele criado naqueles tempos uma Constituição maçônica. Quem conhece a história e pesquisa sabe do fato. Pode-se dizer que a fundação da Grande Loja de Londres, foi “irregular” e “espúria”. “Os que falam em regularidade são obrigados a lançar um véu discreto sobre suas próprias origens, porque a história não tem complacência, ela remete cruelmente a seu devido lugar os excomungadores de hoje, que muitas vezes, foram os irregulares de ontem”.
Cada potência possui em seus quadros, homens que sempre engrandecem a maçonaria onde quer que estejam atuando, pelo seu grande conhecimento e visão.
A maçonaria possui uma grande diversidade de mentes em suas fileiras, mas não possui o que é preciso, a unidade. Somos muitos, mas ainda não conseguimos nos tornar um só.
Se fossem adotadas as regras originais que tanto se apregoa, a mais antiga potência brasileira deveria ser considerada irregular na sua origem, pois, adotou primeiramente na sua fundação o rito Adoniramita e posteriormente um rito ateu (Moderno ou Francês) e continua adotando, contrariando o primeiro preceito maçônico: Acreditar em Deus.
Por comodidade e interesse próprio esqueceram que a descrença no Grande Arquiteto do Universo, gerou uma divisão na maçonaria entre a Inglaterra e a França, se for pedida uma explicação para isto, certamente ela será dada dizendo que não é bem assim que funciona.
As disputas pelo poder irão se suceder como sempre ocorreu, causando insatisfações em um meio onde jamais deveriam existir.
Na primeira divisão ocorrida na maçonaria brasileira, a nova potência (Grande Loja) surgida foi considerada como irregular e espúria.
Na segunda divisão ocorrida na maçonaria brasileira, (Grande Oriente Estadual) o mesmo fato se repetiu.
Os considerados como irregulares ontem, são os que se consideram regulares hoje.
Certamente outras divisões irão ocorrer, e tudo voltará a ocorrer como anteriormente.
“A unidade maçônica sonhada por alguns é um engodo; jamais ela será realizada e nem é de desejar que o seja. A maçonaria deve adaptar-se aos diferentes países e corresponder, em cada país, às diferentes aspirações dos maçons”.
A maçonaria tem parar com a hipocrisia, não existem homens bons apenas em uma determinada potência ou obediência e maus apenas eu outra, existem pessoas boas e más em todos os lugares, existem aqueles dotados de conhecimento místico, esotérico e simbólico, que enobrecem qualquer instituição a que pertencem, e os que desconhecem de tudo, mesmo sendo bons (só usam a Ordem maçônica em benefício próprio), estes deveriam participar de clubes de serviço, existem vários. Não é por desconhecerem os princípios da Ordem e não se adaptarem a ela que deixam de ser bons cidadãos, temos de respeitar isso e aceitar quando deixam a sublime instituição.
Qual potência se habilita a apresentar o documento que lhe confere o título de proprietária da maçonaria?
Existem potências que por não adotarem determinados
ritos, não os aceitam como legítimos, não aceitam o que desconhecem.

Os preconceitos, a intolerância, o desconhecimento, as rivalidades individuais, a mesquinhez e maçons de carteirinha, que jamais, deveriam existir na instituição maçônica, estão sendo usados para desqualificar trabalhos profícuos que são executados em outras obediências, porque eles não pertencem a determinados grupos que querem se intitular como donos de um conhecimento que não lhes pertence, que foram colocados à disposição de todos há milênios.
Os que se julgam donos da verdade deveriam olhar primeiramente para o passado, e só então, tentar construir um futuro que já existe em outros países mais evoluídos, com várias potências trabalhando em prol da humanidade, achar que a maçonaria universal é constituída de apenas uma, duas ou três potências é demonstrar total desconhecimento da história da maçonaria no mundo, desconhecem o que existe fora de sua região de vivência, para estes, nem mesmo a internet conseguiu lhes trazer este conhecimento.
Alias, censura-se o uso da internet pela maçonaria, quanto atraso. Pode-se frequentar livrarias, bibliotecas, assistir filmes e documentários nos cinemas e televisões, ouvir programas em rádios, fazer aquisição de livros, jornais e revistas de conteúdo maçônico, para tentar obter certo conhecimento, mas não se pode usar a internet. O mundo mudou, a forma de aquisição de conhecimento ampliou-se, não se pode tentar viver ainda como na idade da pedra. Os rituais devem servir de guia, mas o conhecimento não está apenas neles, eles não conseguem abranger todo o conhecimento.
A maçonaria não pode viver apenas do passado, tem que evoluir dar um salto para o futuro como em outras nações. Tem que evoluir até mesmo em suas propostas de admissão, elas deveriam estar à disposição em sites maçônicos, todo aquele que se julgar em condições de pertencer à sublime instituição, deveria ter o direito de preencher um formulário se candidatando, como já existe em grande parte do mundo, até quando, as pessoas de bem ficarão fora da maçonaria por não conhecerem que lhes possa convidar. Hoje só se indicam os conhecidos. Existe ate mesmo aqueles que se orgulham em dizer que nunca convidaram ninguém por não conhecer quem poderia vir a fazer parte da maçonaria, estes devem viver em um ambiente muito ruim para não conhecerem ninguém a quem possam indicar, devem achar que são os únicos puros e escolhidos.


autoria de Pedro Neves - neves.pedro@gmail.com
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Regularidade e Reconhecimento - Parte I

MAÇONARIA
REGULARIDADE E RECONHECIMENTO
15.1
1ª PARTE


Potências ou obediências maçônicas novas surgem geralmente através de cisões, com irmãos que eram ativos na obediência anterior, os que ficam na antiga tornam-se sectários, e acham que os fundadores de uma nova loja, potência ou obediência não servem mais para fazer parte da instituição, que são irregulares ou espúrios (desconhecem totalmente o que é ser regular ou espúrio), segundo o dicionário Aurélio:
Regular (Do lat. tar. Regulare, ‘canônico’, ‘relativo ás regras’ adj.)
Adjetivo de dois gêneros
1 - Relativo a regra.
2 - Que é ou que age conforme as regras, as normas, as leis, as praxes.
3 - Diz-se de todos os religiosos que professam numa determinada regra especial, numa ordem, congregação ou sociedade.
Verbo Transitivo direto
1 – Sujeitar a regras; dirigir, regrar.
2 – Encaminhar conforme a lei.
Espúrio (Do lat. tard. Spuriu)
Adjetivo
1 – Não genuíno; suposto, hipotético, adulterado, modificado, falsificado.

Não existe uma instituição que possa se considerar proprietária da maçonaria, e de seu ensino, bem como, nenhuma instituição é proprietária do simbolismo Místico e Esotérico do esquadro e do compasso, eles são milenares e foram adotados por várias instituições relativamente novas, dentre elas, a maçonaria, portanto, não existe instituição para conferir regularidade a quem quer que seja.
Por desconhecimento, os maçons que fazem parte de determinadas potências ou obediências, como queiram, têm por hábito acreditar que somente a que eles fazem parte é perfeitamente “regular”.
Os maçons que forem iniciados segundo os antigos usos e costumes são “regulares”, em qualquer loja a que venham pertencer. Os maçons são livres para fundar e mudar de loja, potência ou obediência, desde que, continuem a praticar as regras estabelecidas na antiguidade.
Se a nova loja. Potência ou obediência é formada por maçons que eram legítimos na anterior, como os classificar como espúrios.
Geralmente os que falam sobre “regularidade”, procuram cobrir as suas origens, a maioria das vezes “irregulares”.
As lojas antigamente eram livres, soberanas e independentes, mas, o grande erro surgiu em 1717, quando três lojas de Londres se reuniram para criar uma Grande Loja, elas calcularam mal tal iniciativa, e passaram desde então a ser dependentes do novo órgão criado. O grão-mestre, que deveria executar as determinações das lojas, passou a gerir os destinos delas, que se tornaram subordinadas. O novo órgão passou a ditar normas, procedimentos e impor decisões, cresceu e tirou o direito que caberia apenas às lojas. Desde então, este órgão se tornou dirigente, decide tudo sem consultar as suas bases de formação, as lojas; que por terem dirigentes e associados sem conhecimento a tudo acatam como cordeirinhos.
As lojas venderam os seus bens mais preciosos, a Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A Liberdade não existe, as lojas nada fazem sem uma autorização do novo órgão, é ele que autoriza ou recusa a instalação de novas lojas. A Liberdade deixou de existir em 1717, e muitos ainda não tomaram ciência disso.
A Igualdade não existe, as lojas que a possuíam, umas com as outras, já não existe, ficaram reféns do novo órgão, que tudo domina que cresce assustadoramente cada vez mais em seu poder financeiro com a contribuição das lojas, e estas com seus cofres cada vez mais exauridos. A Igualdade deixou de existir em 1717, e muitos ainda não tomaram ciência disso.
A Fraternidade não existe, as lojas já não decidem quem é irmão ou não, a quem visitar ou a quem receber. Perdeu-se o sentido de tolerância ensinado nos discursos oficiais. O termo Fraternidade é um engodo, ele está sendo compreendido de modo diferente do que é propagado, Já não se fala a mesma língua, apesar de os símbolos serem os mesmos, razão das decisões contraditórias, destrutivas da unidade dentro da instituição que visa a concórdia universal. As lojas passaram a agir como sectários religiosos. As lojas estão deixando de praticar aquele formosíssimo preceito de todos os lugares e de todos os séculos, que diz com infinita ternura aos seres humanos, indistintamente, do alto de uma Cruz e com os braços abertos ao mundo: “Amai-vos uns aos outros, formai uma única família, sede todos irmãos!”. A Fraternidade deixou de existir em 1717, e muitos ainda não tomaram ciência disso.
A criação deste novo órgão acabou com a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, e através de seus administradores, não querem perder o poder do feudo que criaram. Tentam impedir a intervisitação com lojas ou obediências que não lhe são subordinadas, querem impedir que novas idéias possam surgir. Eles impedem na realidade, o crescimento da Ordem por pura vaidade.
Uma nova loja ou potência é sempre criada, por maçons que possuem grande conhecimento e que certamente serão bem recebidos se quiserem um dia voltar às suas origens.
Nunca vi uma carta de reconhecimento de uma potência para outra potência, elas só se reconhecem entre si. Ex: Grande Loja para Grande Loja; Grande Oriente para Grande Oriente, desconheço uma carta de soberano grão-mestre do Grande Oriente do Brasil reconhecendo uma Grande Loja ou vice-versa. Existem na realidade, tratados de amizade entre as obediências ou potências.

autoria de Pedro Neves - neves.pedro@gmail.com
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Os Versos de Ouro de Pitágoras

Carlos Cardoso Aveline
(Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília, de Brasília)

(Este texto é parte integrante do artigo de mesmo nome publicado no jornal "O Exotérico" nº 25, de junho/98, de Porto Alegre-RS)

Os Versos de Ouro da tradição pitagórica constituem um documento de valor inestimável. Este texto, breve e único, até hoje pouco conhecido do público, é um mapa preciso do caminho prático para a sabedoria divina. O fato de que caiu no esquecimento e é relativamente raro só faz aumentar seu valor. Ele expressa em poucas palavras, e com uma clareza definitiva, o compromisso de vida dos pitagóricos de todos os tempos.

Os Versos de Ouro serão tão atuais dentro de 500 anos como eram na Grécia antiga há 2.500 anos atrás. Na complexa transição de hoje para uma civilização global, eles apontam e sinalizam impecavelmente o caminho da regeneração de cada indivíduo, base para o renascimento coletivo da sabedoria nos próximos anos e décadas.

Traduzo os Versos de Ouro a a partir do texto de Hierocles de Alexandria, com base na versão em língua inglesa feita por N. Rowe em 1707, e adotada hoje pela maior parte dos estudiosos da tradição pitagórica. Mas levei em conta outras versões importantes dos Versos, entre elas a de Fabre d'Olivet. A seguir, portanto, um texto imortal que se pode ler, reler e meditar ao longo do tempo. É um mapa, um guia e um tratado completo sobre a vida dos sábios.


OS VERSOS DE OURO DE PITÁGORAS


1. Honra em primeiro lugar os deuses imortais, como manda a lei.

2. A seguir, reverencia o juramento que fizeste.

3. Depois os heróis ilustres, cheios de bondade e luz.

4. Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.

5. Honra em seguida a teus pais, e a todos os membros da tua família.

6. Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.

7. Aproveita seus discursos suaves, e aprende com os atos dele que são úteis e virtuosos.

8. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro,

9. Porque o poder é limitado pela necessidade.

10. Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões:

11. Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.

12. Não faz junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.

13. E, sobretudo, respeita a ti mesmo.

14. Pratica a justiça com teus atos e com tuas palavras.

15. E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.

16. Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá a todos;

17. E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.

18. Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for,

19. Dos sofrimentos que o destino determinado pelos deuses lança sobre os seres humanos.

20. Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.

21. E lembra que o destino não manda muitas desgraças aos bons.

22. O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.

23. Portanto, não aceita cegamente o que ouves, nem o rejeita de modo precipitado.

24. Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.

25. Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora:

26. Não deixa que ninguém, com palavras ou atos,

27. Te leve a fazer ou dizer o que não é melhor para ti.

28. Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas ações tolas,

29. Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.

30. Mas faze aquilo que não te trará aflições mais tarde, e que não te causará arrependimento.

31. Não faze nada que sejas incapaz de entender.

32. Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, tua vida será feliz.

33. Não esquece de modo algum a saúde do corpo,

34. Mas dá a ele alimento com moderação, o exercício necessário e também repouso à tua mente.

35. O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.

36. Acostuma-te a uma vida decente e pura, sem luxúria.

37. Evita todas as coisas que causarão inveja,

38. E não comete exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.

39. Não age movido pela cobiça ou avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.

40. Faze apenas as coisas que não podem ferir-te, e decide antes de fazê-las.

41. Ao deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,

42. Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.

43. Pergunta: "Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?"

44. Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.

45. Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração

46. São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina,

47. Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado.

48. Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.

49. Nunca começa uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.

50. Quando fizeres de tudo isso um hábito,

51. Conhecerás a natureza dos deuses imortais e dos homens,

52. Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém, e os mantém em unidade.

53. Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.

54. Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.

55. Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.

56. Como são infelizes! Não vêem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.

57. Poucos sabem como libertar-se dos seus sofrimentos.

58. Este é o peso do destino que cega a humanidade.

59. Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis,

60. Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.

61. Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia, mas foge dela!

62. Oh Deus nosso Pai, livra a todos eles de sofrimentos tão grandes,

63. Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.

64. Porém, tu não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina,

65. E a natureza sagrada tudo revelará e mostrará a eles.

66. Se ela comunicar a ti os teus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.

67. E ao curar a tua alma a libertarás de todos estes males e sofrimentos.

68. Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.

69. Avalia bem todas as coisas,

70. Buscando sempre guiar-te pela compreensão divina que tudo deveria orientar.

71. Assim, quando abandonares teu corpo físico e te elevares no éter,

72. Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás.

Tempos Difíceis

São tempos difíceis caros Irmãos.
Tempos de violência, de degradação e de desesperança. Famílias se desfazem, vidas se vão e valores antes insubstituíveis se enterram sob o peso dos vícios e do egoísmo. Tudo se torna relativo ante o poder, o dinheiro e a busca por sobrevivência. Onde foi que perdemos nossos sonhos e nossa inocência? Onde foi que desistimos? Onde foi que erramos? Perguntas e mais perguntas martelam em nossas cabeças durante estes dias obscuros e de mal agouro.
O mal se entranha em nosso cotidiano, as grades nos rodeiam e o prisioneiro se encontra ali, diante do espelho. Somos nós os prisioneiros. Prisioneiros de nossos medos, de nossas angustias e de nossas limitações, só uma coisa nos separa daqueles que estão aprisionados dentro dos muros de uma penitenciaria, eles, diferentes de nós, tem para onde fugir, e você?
A vida não é fácil, viver é um eterna luta, uma aventura fantástica que nos amedronta com suas artimanhas e surpresas, quem poderá dizer alguma vez que já não pediu a Deus ajuda? Quem já não chorou por uma perda? Quem não sorriu quando se realizou um reencontro? Quem é infalível?
Somos nada e somos tudo, que dilema terrível. Somos a poeira e a bela obra prima, somos o divino e o grotesco, somos pais e somos filhos, o que afinal somos?
Mais duvidas, mais dilemas e buscamos as respostas. Lembra quando era pequeno e se perguntava “Porque o céu é azul?” , “De onde vem o vento e a chuva?” , “Porque as estrelas brilham?” e ouvíamos extasiados as respostas simples e inocentes que nossos pais nos davam, vivíamos em um mundo fantástico onde o herói sempre vencia, onde queríamos ser o policial, o bombeiro, queríamos ser o cavaleiro a salvar as indefesas princesas, batalhávamos contra o mal e o bem sempre vencia. Acreditávamos nas fadas e queríamos tocar a Lua com nossas mãos, éramos invencíveis, mas acima de tudo éramos verdadeiros.
Crescemos e tudo isso ficou pelo caminho, as vezes nos pegamos a pensar nas velhas brincadeiras, nos velhos amigos e em tudo que ficou para trás no decorrer implacável do tempo. Hoje somos adultos, mas confesso, gostaria de ser criança novamente, para chorar e buscar colo quando triste ou ferido, para sonhar com meus castelos novamente e me ver mais uma vez a vagar infinitamente pelo universo em busca de minhas inocentes aventuras.... Mas isso ficou a muito tempo para trás e como as águas de um rio nunca retornam, não posso ser mais criança, mas uma coisa posso fazer, resgatar meus sonhos, minhas esperanças e quem sabe ser o mocinho novamente, mesmo que por alguns momentos.
Muitos falarão que isto é puro sentimentalismo, pode ser, mas é um sentimentalismo verdadeiro e profundo, sem mascaras e sombras, puro, e isso me traz a meus queridos Irmãos, Irmãos que a vida me deu como prova de que os sonhos ainda existem, de que chorar não é feio, de que um abraço vale mais que dinheiro e que o solo que eu piso esta no mesmo nível que os demais, sem distinção, sem medos, com honra e lealdade, me sinto novamente o cavaleiro a cavalgar nos vastos campos, livre e feliz. Que mais poderia desejar?
As perguntas me martelam ainda a mente, mas agora sei que não podemos ter todas as respostas, ninguém tem, sei também que ser infalível é impossível, o máximo que podemos fazer é tentar melhorar um pouco a cada dia, sei também que o tempo é curto, o que ficou pra trás não muda o que temos pela frente, mas nunca devemos nos esquecer de onde viemos, sei também que o mundo é duro, mas muitos como eu buscam a justiça e a esperança para construir um mundo sem grades, sem prisões, aprendi que a injuria ronda as nossas vidas junto com a maldade que graça no mundo, mas se deixar abater por ela é o mesmo que apoiar o mundo de caos que se ilumina a cada manhã e o mais importante, aprendi que somente somos a poeira quando separados, mas quando juntos, somos a bela obra prima.
Quem conseguir estar dentro de sua Loja, verá que por detrás de cada terno, cada avental, cada colar, existe um buscador, existe um sonhador e quem sabe poderemos ter a felicidade de encontrar ali uma alma que conseguiu ainda manter a criança viva dentro de seu coração, poderemos encontrar ali mais um cavaleiro a cavalgar em vastos campos, livre, feliz. Quem sabe ele pode nos ensinar como nos livrar das nossas próprias correntes? Quem sabe? A Luz Divina deve brilhar em nossas colunas, e essa luz deve iluminar o caminho de quem tiver a coragem de reconhecer sua debilidade, suas falhas, pois só é merecedor de liberdade aquele que é verdadeiro e honesto. Sou um Mestre que não tem todas as respostas, sou um Mestre que ainda tem muito a aprender. Saibam Irmãos aprendizes que o branco avental que ostentam é o mais belo entre todos, pois ele mostra que quem o usa se propôs a reconhecer e harmonizar tudo aquilo que lhe impede de ser novamente mais um homem livre em vastas veredas, sem o jugo e a carga inútil das correntes que arrasta atrás de si no mundo profano.
Não importa sua Loja, sua Obediência, aquela frase “Meus Irmãos Como Tal Me Reconhecem” não tem significado quando tratado a luz de acordos e convenções criados dentro de salas frias e reuniões formais, mais do que buscar um igual, esta frase significa que os que buscam como nós quebrar os grilhões que nos prendem a um mundo vazio e sem sentido nos reconhecerão, e que juntos formaremos mais um pedaço desta grande obra prima chamada Maçonaria, juntos seremos uma família a atravessar dos mais profundos vales as mais altas colinas a buscar sabedoria e a quebrar grilhões, e quem sabe possamos algum dia sermos dignos de ser tratados como Mestres que enfim aprenderam a ser Aprendizes. Quem sabe aprenderemos a realmente ter aquela criança viva dentro de nossos corações novamente. Quem sabe?
São tempos difíceis caros Irmãos, para os que choram sozinhos, para os que perecem das infâmias de uma vida desprovida, dos que agonizam enfermos em hospitais, dos que gritam por justiça. Agradeça sua boa sorte, abrace seus Irmãos e festeje a oportunidade de estar vivo realizando algo. De também um abraço em sua esposa, seus filhos, e mostre que por mais que os tempos sejam difíceis a união perene dos que se amam sempre supera tudo.
São nas noites mais escuras que precisamos de luz. Iluminemos então Irmãos os quartos vazios de nossas almas e assim espalharemos essa luz pelo mundo. Segure na mão da criança que sempre andou ao seu lado e que a muito você havia se esquecido, e com ela varra o mundo a sua volta, mostrando que por mais que os tempos sejam difíceis ainda existe esperança e ela é eterna como nossas almas.


TFA

Cristiano S. G. de Castro
M.´.M.´.

Palavras de um Aprendiz

Quando nos tornamos maçons aprendemos como devemos nos esforçar para sermos pessoas melhores, nos aperfeiçoarmos, evoluirmos e consequentemente como recebedores, somos chamados a nos tornar doadores de tudo aquilo que nos foi entregue, de tudo aquilo que foi alcançado, pois nada nos pertence, somos simples guardiões de conhecimento que será usado dia-a-dia como argamassa a unir e construir nosso templo maior, a humanidade. Nossa responsabilidade é grande pois ao atendermos o chamado, como verdadeiros maçons, devemos reconhecer nossas limitações, nossos medos, nossas falhas, aprender com elas e nos superarmos, esta é nossa meta, não somente receber a luz, mas amplia-la, difundi-la, e principalmente entende-la.
É um paradoxo querer levar a outros algo incompreensível a nós mesmos, nossa racionalidade cartesiana se rebela contra nossa alma, nossos atos se chocam com nossa vontade, o caos se torna palpável, principalmente para os que trilham o caminho a pouco, estes ainda conseguem enxergar o umbral atrás de seus passos e a visão de um retorno ao lugar de inconsciência e conforto se torna tentadora para todos que não teem realmente coragem de continuar sua jornada, pois ela é solitária e sem volta, o que foi jurado não pode ser desfeito.
Desta forma seguimos nossa jornada, tentando aprender com tudo a nossa volta, reavaliamos nossas experiências, amigos, certezas e nossa vida parece ter novo significado, começamos a vislumbrar que algo maior ainda esta por vir, e que só estamos nos preparando para seguir mais e mais adiante, somos simples aprendizes, queremos discutir, ouvir, ler, dialogar e perguntar, como crianças ansiosas.
Aprendemos que a sabedoria é o que vai desbastar nossa ignorância, ela tornara mais e mais bela a pedra bruta e informe que representa nosso estado de mediocridade e estupidez ao qual estamos ligados desde a muito, mas para isso precisamos de força de vontade, de fé, de esperança, precisamos acreditar, precisamos sentir em todo nosso corpo e alma aquilo que os mais experientes chamam de Grande Obra, precisamos construir, precisamos destruir, nada será feito sem sacrifício, esta é uma senda iniciatica e não se engane aquele que pensa que estamos em um mundo de faz de conta, estamos no mundo real, com conseqüências reais e fatos reais, não se iludam, a Grande Obra não se descobre, se constrói. Sendo assim, somos muitas vezes chamados bruscamente de volta ao caminho quando nos desviamos dele, nossos passos agora podem ser ouvidos em terras distantes e a atenção que nos é dada é cobrada. Nada é fácil, somente justo e perfeito.
Bem, assim será o caminho trilhado, assim é nossa jornada, mas as armadilhas se apresentam, as provas a nosso conhecimento se apresentam, mas como nos foi dito como aprendizes, a alquimia verdadeira não se executa externamente mas interiormente, VITRIOL, desta maneira devemos estar atentos para não darmos a nossa obra somente aspecto magnífico, com um verniz intelectual estupendo, isto é fácil, o que muitos se esquecem é que ela deve estar adornada internamente com nossa Ancora, nossa Cruz e nosso Cálice.
Mais que degraus, estamos galgando nossas limitações, nossos medos e preconceitos, buscar o equilíbrio neste vórtice pode ter um peso esmagador, mas é necessário. Prudência, pois os traidores aparecerão, sabedoria, pois mentiras serão ditas, força, pois batalhas precisam ser vencidas e seu maior inimigo esta exatamente onde ninguém pode alcançá-lo, somente você pode vê-lo, somente você pode enfrentá-lo, e se lembre que vitórias não se alcançam somente com morte e destruição, mas também com reconciliação e paz.
Quando olho para meu filho vejo promessas de paz e harmonia, vejo potencial, vejo felicidade, mas quem sou eu para querer algo? Aprendi que nada nesta vida é acaso, e que nada acontece sem uma causa e efeito. Aprendi isso como pai, essa lição me mostrou que por mais que criemos, nunca podemos controlar o que esta a nossa volta, a natureza das coisas visíveis e invisíveis ainda nos é muito estranha e não temos ainda capacidade de entender o quão sublime pode ser a vida, temos esses lampejos quando vemos um sorriso, um amor incondicional, e isso as vezes quase nos leva as lágrimas, imaginem todo esse amor em sua magnitude. Essa é nossa busca.
Se buscamos a perfeição? Não. Buscamos o entendimento, buscamos a paz de nossos próprios medos, a harmonia de uma vida bela e a felicidade de um retorno a nossa casa celestial, para um novo retorno terreno de buscas e aprendizado.
O mundo gira, o universo não é estático, tudo vibra. Cada molécula de nossas células, pequenos milagres, que nos fazem viver e buscar. A aspiração ao divino deve ser entendida como uma busca própria onde erros e acertos são paradoxos, pois não existe certo e errado, existe o equilíbrio, nossas lojas são exemplo disso, Norte e Sul se completam como o Oriente não pode governar sem o Ocidente, a dualidade se expressa, essa mesma dualidade tende a nos fazer pensar em opostos, nunca em uma coisa mesma, ai reside um grande problema para nossa compreensão. O bem e o mal, a luz e a escuridão, o novo e o velho, não são coisas diferentes, mas a mesma coisa, extremos que se tocam e se completam, um não existe sem o outro, tudo se completa e se destrói para renascer novamente em um ciclo infinito. A manifestação divina sobre a Terra é dual e se equilibra com sabedoria divina, ai esta o triângulo, ai esta a busca ai esta o destino, equilíbrio e compreensão.
Que a jornada seja bela, pois o destino será sempre único, sendo assim, aproveite a caminhada, e não se preocupe em chegar, mas sim em estar no caminho.

Que assim seja.



Cristiano Soares Gomes de Castro
M.´.M.´.

22 de maio de 2010

Liber Librae

Este não é exatamente um texto maçônico, mas traz, ao menos no meu entender, algumas valiosas e importantes observações a todos aqueles que procuram a verdadeira iniciação.

LIBER LIBRÆ

SUB FIGURA XXX

A.·.A.·.
PUBLICAÇÃO EM CLASSE B
IMPRIMATUR: N. FRA. A. · . A. · .

0. Aprende primeiro- Ó tu que aspiras a nossa antiga Ordem! - que o Equilíbrio é a base do Trabalho. Se tu mesmo não tens um alicerce, sobre o que irás tu estar para comandar as forças da Natureza?

1. Saiba, então, que como o homem nasce neste mundo em meio às Trevas da Matéria, e à luta de forças rivais; seu primeiro esforço deve, portanto, ser o de procurar a Luz atravez da reconciliação delas.

2. Tu então que tens provas e problemas, regozija-te por causa deles, pois neles está a Força, e por meio deles é aberta uma trilha àquela Luz.

3. Como poderia ser de outro modo, Ó homem, cuja vida é apenas um dia na Eternidade, uma gota no Oceano do tempo; como poderias tu, não fossem muitas as tuas provas, purgar tua alma da escória da terra? É apenas agora que a Vida Mais Elevada é assediada com perigos e dificuldades; não tem sido sempre assim com os Sábios e Hierofantes do passado? Eles foram perseguidos e ultrajados, eles foram atormentados por homens; ainda assim sua Glória crescera.

4. Regozija, portanto, Ó iniciado, pois quanto maior for tua prova, maior teu triunfo. Quando os homens te ultrajarem, e falarem contra ti falsamente, não tem dito o Mestre, "Sagrados sois vós"?

5. Ainda assim, Ó aspirante, deixa que tuas vitórias tragam a ti não a Vaidade, pois com o aumento do conhecimento acompanharia o aumento da Sabedoria. Ele que sabe pouco, pensa que sabe muito; mas o que sabe muito descobrira sua própria ignorância. Tu vês um homem sábio em sua própria presunção? Não há mais probabilidade de existir um tolo, do que ele.

6. Não sejas apressado em condenar outros; como conheces aquilo no lugar deles, tu poderias ter resistido a tentação? E mesmo se fosse assim, Porque deverias tu menosprezar aquele que é mais fraco do que tu mesmo?

7. Tu, portanto, que desejas Dons Mágicos, estejas seguro de que tua alma é firme e inabalável; pois é lisongeando tuas fraquezas que os Fracos ganharão poder sobre ti. Rebaixa-te ante teu Self; contudo, não temas nem homem nem espírito. O Temor é o fracasso, e o precursor do fracasso; e a coragem é o início da virtude.

8. Portanto, não temas os Espíritos, mas sê firme e cortês com eles; pois tu não tens direito a desprezá-los ou a injuriá-los; e isto também pode induzir-te ao erro. Domina e bane-os, amaldiçoa-os pelos Grandes Nomes se necessário for; mas nem zombes nem os insultes, pois assim, certamente, tu serás levado ao erro.

9. Um homem é aquilo que ele faz de si mesmo dentro dos limites fixados por seu destino herdado; ele é uma parte da humanidade; suas ações afetam não somente o que ele denomina de si mesmo, mas também a totalidade do universo.

10. Venera, e não negues o corpo físico que é tua conecção temporária com o mundo externo e material. Portanto, que teu Equilíbrio mental esteja acima dos distúrbios dos fatos materiais; vigora e controla as paixões animais, disciplina as emoções e a razão, alimenta as Aspirações Mais Elevadas.

11. Faze o bem aos outros para teu próprio bem, não por recompensa, não pela gratidão deles, não por compaixão. Se tu és generoso, tu não ansiarás que teus ouvidos sejam deliciados com expressões de gratidão.

12. Lembra que a força desequilibrada é perniciosa; que a severidade desequilibrada é apenas cueldade e opressão; mas que também a misericórdia desequilibrada é apenas fraqueza que consentiria e incitaria o Mal. Obra com paixão; pensa com razão; sê Tu mesmo.

13. O Verdadeiro ritual é tanto ação quanto palavra; é Vontade.

14. Lembra que esta terra é apenas um átomo no universo, e que tu mesmo és apenas um átomo disto, e que mesmo tu poderias tornar te o Deus desta terra na qual tu rastejas e te arrastas, que tu serias, mesmo então, apenas um átomo, e um dentre muitos.

15. Contudo, tem o maior auto-respeito, e para este fim não peques contra ti mesmo. O pecado que é imperdoável é rejeitar consciente e intensionalmente a Verdade, recear o conhecimento mesmo que aquele conhecimento não alcovites teus preconceitos.

16. Para obter o Poder Mágico, aprende a controlar o pensamento; admita somente aquelas idéias que estão em harmonia com o fim desejado; e não toda idéia difusa e contraditória que se apresente.

17. O Pensamento fixo é um meio para um fim. Portanto, presta atenção no poder do pensamento silencioso e da meditação. O ato material é apenas a expressão externa de teu pensamento, e, portanto, tem sido dito que "Pensar tolice é pecado". O Pensamento é o começo da ação, e se um pensamento ao acaso pode produzir muito efeito, o que não poderia fazer um pensamento fixo?

18. Portanto, como já tem sido dito, Estabeleçe-te firmemente no equilíbrio das forças, no centro da Cruz dos Elementos, a Cruz de cujo centro o Mundo Criativo brotou no nascimento da aurora do Universo.

19. Sê tu, portanto, pronto e ativo como os Silfos, mas evita frivolidade e capricho; sê enérgico e forte como as Salamandras, mas evita irritabilidade e ferocidade; sê flexivo e atento às imagens como as Ondinas, mas evita ociosidade e inconstância; sê laborioso e paciente como os Gnomos, mas evita grosseria e avarice.

20. Então, irás tu gradualmente desenvolver os poderes de tua alma, e encontrar te a comandar os Espíritos dos elementos. Por que esteves a convocar os Gnomos para alcovitar tua avarice, tu não irias mais comandá-los, mas eles te comandariam. Abusarias dos puros seres dos bosques e das montanhas para encher teus cofres e satisfazer tua fome de Deus? Rebaixarias os Espíritos do Fogo Vivo para servir a tua ira e ódio? Violarias a pureza das Almas das Águas para alcovitar teu desejo de devassidão? Forçarias os Espíritos da Brisa Noturna para servir a tua loucura e capricho? Saiba que com tais desejos tu podes apenas atrair o Fraco, não o Forte, e naquele caso o Fraco terá poder sobre ti.

21. Na religião verdadeira não há seita, portanto, preste atenção a que tu não blasfemes o nome pelo qual outro conhece seu Deus; pois se tu fazes isto em Júpiter tu irás blasfemar YHVH e em Osíris YChShVCh. Pergunta e tu irás obter resposta! Procura, e tu irás encontrar! Bate, e será aberta a ti!

Alquimia - A Grande Obra

Aqui vou procurar passar, de uma forma resumida, em que consistiu, e consiste, a autêntica alquimia. A maioria dos dicionários contribuiu para reforçar uma série de erros comuns, recusando-a, por considerá-la uma predecessora imadura, empírica e especulativa da química, com o único objetivo de transmutar os metais comuns em ouro. Embora seja certo que a química se desenvolveu à partir da alquimia, estas duas ciências não tem quase nada em comum. Enquanto que a química se ocupa dos fenômenos cientificamente verificáveis, a misteriosa doutrina da alquimia se refere a uma realidade escondida de ordem superior que conforma a essência que está na base de todas as verdades e religiões. A perfeição dessa essência é denominada Absoluta, pode ser percebida e compreendida como a maior Beleza de todas as Belezas, o maior Amor de todos os Amores e o mais Alto do Alto, só é necessário que a consciência se altere profundamente e passe do nível normal de percepção cotidiana (o chumbo) a um nível sutil e elevado de percepção (o ouro), de maneira que cada objeto se perceba com a forma arquetípica perfeita, contida dentro do Absoluto. A percepção da perfeição eterna do todo em todos os lugares é o que constitui a Redenção Universal. A ciência da alquimia, sagrada, secreta, antiga e profunda, também denominada a Arte Real ou Sacerdotal e Filosofia Hermética, esconde atrás de textos metafóricos e emblemas enigmáticos, os caminhos para penetrar nos segredos mais profundos da matéria e da natureza, da vida e da morte e da unidade, da eternidade e do infinito. Começarei, portanto, nos fixando no que era realmente os verdadeiros alquimistas pretendem conseguir. A alquimia não é simplesmente uma arte ou ciência que ensine a transmutar metais em ouro, mas sim, uma ciência sólida e verdadeira que ensina a conhecer o centro de todas as coisas, o que na linguagem divina significa o Espírito da Vida. Ao longo da história, os verdadeiros alquimistas, que menosprezavam as riquezas e os elogios mundanos, tentaram encontrar a Medicina Universal, a Panacéia. Essa Panacéia que, ao ser totalmente sublimada, se converte na Fonte da Juventude, a chave da Imortalidade, tanto em um sentido espiritual, como misteriosamente físico. Não só curaria todas as doenças, mas também poderia fazer com que o corpo rejuvenescesse e se convertesse finalmente em um corpo de Luz incorruptível. O Adepto, o que conseguiu o dom de Deus, receberia então, a tríplice coroa da Iluminação: Onisciência, Onipotência e Gozo do Amor de Divino. Mas muitos são os chamados e muito poucos os escolhidos, deve-se reconhecer que dentro desta minoria muitos poucos conseguiram alcançar o último objetivo. Os que assim o fizeram, constituem a Irmandade da Luz e estão vivos. Mas apesar de serem enormes as dificuldades que apresentam as doutrinas ocultas do Ocidente e do Oriente, são muito maiores as que se apresentam ao verdadeiro estudioso da alquimia. Especialmente se o que se pretende é ir além das análises superficiais que periodicamente vieram realizando os historiadores, psicólogos e outros eruditos. Se bem é certo que o estudo da alquimia através dos textos pode se tornar verdadeiramente desalentador, igual que o desesperançado estudioso pode descobrir nas pinturas alquímicas um caminho, repleto de maravilhas, para penetrar no coração da matéria. É que os alquimistas, através de suas imagens, expressaram de uma forma engenhosa e muito bela, coisas que nunca chegaram a escrever. Esta linguagem pictórica, onde todos os detalhes possuem um significado específico, exerce uma profunda fascinação sobre o observador sensível. Essa fascinação se produz sempre, independente de que as pinturas sejam compreendidas. Se o leitor contempla atentamente estas imagens, ou seja, se vai mais além da superfície, comprovará que muitas vezes correspondem a uma dimensão atemporal que se encontra em nosso interior mais profundo.

Não sei a origem e autor do texto

23 de março de 2010

Vaidade

A VAIDADE

Clara da Costa


Um certo grau de vaidade e orgulho,
é considerado normal, pelas coisas que fizemos bem,
e é bom para nosso espírito, porque nos dão
ânimo para continuar...
Cuidar da saúde é uma coisa, mas obsessão
pela beleza física,é outra...
Mas como tudo que é exagerado prejudica,
a vaidade,  vista como sendo o centro de nossas
vidas, também prejudicará, pois será o foco de
 angústias, conflitos e desamor.
Ser humilde, é saber controlar as vaidades.
 O vaidoso ao extremo, não aceita argumentos, por mais relevantes que sejam,
não elogia o outro, não pede desculpas, não sabe ser gentil, com medo de perder " o seu brilho".
Com isso ,prejudica, por seu egoísmo,
e falta de humildade, seu amor ao próximo.
Com mais humildade, e menos vaidade,
nossa vida será mais prazerosa...
é nas coisas simples e naturais,
que se escondem os grandes ensinamentos,
as grandes alegrias.

Pipa/RN
11.04.09

Acácia Amarela - Ir.´. Luiz Gonzaga


Ela é tão linda é tão bela
Aquela acácia amarela
Que a minha casa tem
Aquela casa direita
Que é tão justa e perfeita
Onde eu me sinto tão bem
Sou um feliz operário
Onde aumento de salário
Não tem luta nem discórdia
Ali o mal é submerso
E o Grande Arquiteto do Universo
É harmonia, é concórdia
É harmonia, é concórdia".

Lições


Aprendi..., que a desilusão é uma das piores dores!... Pois ninguém se ilude com aqueles que conhece, mas sim com os que pensa que conhece!...
Helber Chin Ku Chon Choo

Retorno....

Depois de vários dias sem postagens, retorno. Por motivos de mudança (voltei a morar em minha cidade natal, Maringá - PR.) estive afastado, mas vamos continuar esse 2010 com vontade.

17 de fevereiro de 2010

Carnaval - História, Símbolos e Tradições.

CAPÍTULO I
O Carnaval Originário
 
(Do IV milênio a.C. ao século VII a.C.).
 
O Carnaval Originário tem como marco inicial a criação dos cultos agrários e, como ponto final a oficialização das festas a Dioniso, durante o reinado de Pisistrato na Grécia, de 605 a 527 a.C.
 
 
O PRIMEIRO CENTRO DE EXCELÊNCIA DO CARNAVAL
O Primeiro Centro de Excelência do Carnaval se localiza no Egito. É o modelo mais simples de carnaval e consta de danças e cânticos em torno de fogueiras, incorporando-se aos festejos, máscaras e adereços e, à medida que as sociedades evoluem para a divisão de classes, orgias e libertinagens (na acepção de liberdade, culto ao corpo, ao belo humano). Os festejos logo se ligam a totens e deuses ( é importante e relevante lembrar que o fogo, água, terra e o ar entram em conjunção com as forças vitais  sobre as quais  repousam o universo).
 
 
As  Origens
As origens do Carnaval são obscuras e longínquas. Sua memória vem do inconsciente coletivo dos povos. Não temos como comprovar cientificamente o nascimento do Carnaval, entretanto, baseados em pesquisas da história da evolução do homem deduzimos que os primeiros indícios, do que mais tarde se chamaria Carnaval, surgiram dos cultos agrários ao tempo da descoberta da agricultura. Esclarecemos, ainda, que há dúvida quanto a data da descoberta da agricultura. Sabemos, no entanto, que o surgimento da agricultura só ocorreu após o final da última glaciação da Terra, há, aproximadamente, 10.000 anos a.C., quando melhores condições climáticas fizeram surgir nos lugares das imensas e inóspitas geleiras, bosques e pradarias, ricas em recursos animais e vegetais. O novo ambiente da Terra fez com os humanos saíssem das cavernas para os campos. Livres da predação dos grandes animais, desaparecidos, os homens evoluíram para domesticação e criação dos animais e cultivo dos vegetais (sedentarização).
Favorecidos pelos humos (ou limo) que deixavam extremamente fértil as terras irrigadas pelo rio Nilo, teriam sido os povos que, primitivamente, habitavam suas margens e que a partir de 4000 anos a.C. evoluíram para as unidades políticas chamadas “Nomos”, os verdadeiros criadores da agricultura e dos cultos agrários.  O homem começou a entrar no reino da utopia  através da comemoração. No momento da festa se desligava das coisas ruins, que concretamente tinham ido embora (o inverno que o prendiam aos abrigos) e saudava o que lhe parecia um bem ( a entrada da primavera, o término das enchentes do rio Nilo, o nascer e o pôr do sol), com danças e cânticos para espantar as forças negativas que prejudicavam o plantio.
 
Principais Cultos Agrários
- No Egito, festa da Deusa Ísis e do Boi Apís.
-Na Pérsia, festas da deusa da Fecundidade Naita e de Mira, deus dos Pastores
- Na Fenícia, Festa da deusa da Fecundidade Astarteia.
- Em Creta, festa da Grande Mãe, deusa protetora da terra e da fertilidade, representada por uma pomba.
- Na Babilônia, as Sáceas, festas que duravam cinco dias e eram marcadas pela licença sexual e pela inversão dos papéis entre servos e senhores, e pela eleição de um escravo rei que era sacrificado no final da celebração.

Dr.Hiram Aráujo
Livro "Carnaval"


CAPÍTULO II

O Carnaval Pagão
 
(Do século VII a.C. ao século VI d.C.)
O Carnaval Pagão começa quando Pisistráto oficializa o culto a Dioniso na Grécia, no século VII a.C. e, termina, quando a Igreja adota, oficialmente, o carnaval, em 590 d.C.

  
O SEGUNDO CENTRO DE EXCELÊNCIA DO CARNAVAL 
 
O Segundo Centro de Excelência do Carnaval localiza-se na Grécia e em Roma, entre o século VII a.C. e VI d.C.. Com as sociedades já organizadas em castas e rígidas hierarquias, com a nobreza, o campesinato e os escravos, nitidamente separados por classes acentuam-se as libertinagens e licenciosidades, provocadas, ao que se supõem, pela necessidade de válvulas de escape ( era o culto ao corpo sem culpa da filosofia escoástica). Sexo, bebidas e orgias incorporam-se, definitivamente, às festas que, juntamente com o elemento processional e a inversão de classes, compõem o modelo que alguns autores consideram o fulcro estético e etimológico do carnaval..
 
 
 
As  Dionísias Gregas
Dioniso: de Dio (s), céu, em Trácio e Nysa, filho do céu, também chamado Baco - ambos nomes de origem grega, sendo que Baco aparece pouco mais tarde na literatura grega (em Édipo Rei, de Sófocles - século V a.C.)- tem outros epítetos, como IACO, BRÔMIO e ZAQUEU.
Esses nomes, com o mesmo significado ,surgem em cultos no mundo do Mediterrâneo.
IACO: Grande grito, era o deus que conduzia a procissão nos mistérios de Eleuses (Grécia) com exclamações coletivas de entusiasmo dos peregrinos.
BRÔMIO: Significa “estremecimento, ruído surdo e prolongado”. Era uma espécie de transe que se apossava dos adoradores do deus durante o seu culto.
ZAQUEU: Nome com que Dioniso era conhecido, sobretudo, na Ásia Menor e em Creta. Zaqueu é o grande caçador que aparece em algumas peças de Esquilo, no século VI a.C..
 
DIONISO, como era mais conhecido, permaneceu por longo tempo confinado nos campos, somente aparecendo, tardiamente, na Pólis de Atenas.
A explicação é dada por Junito de Souza Brandão em sua Mitologia Grega, (pág. 117 e 133): “Viu-se que o deus do êxtase e do entusiasmo, até mais ou menos a década dos anos 50, era considerado como uma divindade que chegara tardiamente à Hélade. Pois bem, a partir de 1952, as coisas se modificam: é a decifração de uma parte dos hieróglifos cretomicênicos por Michael Ventris, segundo se mostram no Volume I, pág. 53 ou mais precisamente, a decifração da linear B, consoante a classificação de Arthur Evans, demonstrou que o deus já estava presente na Hélade, pelo menos desde o século XIV a.C., conforme atesta a tabela X de Pilos. Há de se perguntar por que um deus tão importante, já documentado no século XIV, só se manifesta de forma aparentemente grotesca, no século IX e só a partir dos fins do século VII a.C. tem sua entrada solene na mitologia e na literatura? É quase certo que o adiado aparecimento de DIONISO e sua tardia explosão no mito e na literatura se deveram sobretudo a causas políticas. Com seu êxtase e entusiasmo o filho de Semethe era uma séria ameaça à Pólis aristocrática, à Pólis dos Eupátridas, ao status quão vigente cujo suporte religioso eram os aristocratas deuses olímpicos. Com as características, ora de deus da cultura do vinho e da figueira, ora simbolizado pela Hera e pelos Pinheiros, ora representados pelo bode, Dioniso, o deus da transformação e da metamorfose, que havia sido expulso de Olimpo, todos os anos, chegava à Grécia, aos primeiros raios de sol da primavera, acompanhado de um séquito de sátiros e ninfas sendo saudado pelos fiéis com música, danças, algazarras, vinhos, sexo e também violência que por vezes terminava em tragédia”.
Teria sido PISISTRATO, governante de Atenas (605 - 527 a.C.) o responsável pela oficialização do culto a Dioniso na Grécia.
PISISTRATO além de incentivar o culto a Dioniso entre os camponeses e lavradores organizou oficialmente as procissões dionisíadas onde a imagem do deus Dioniso era transportada em embarcações com rodas (carrum navalis) simbolizando que o deus havia chegado a Atenas pelo mar, puxadas por sátiros (semi deuses que segundo os pagãos tinham pés e pernas de bode e habitavam as florestas) com homens e mulheres nús, em seu interior. Seguindo o cortejo, uma multidão de mascarados, meio a um touro, que depois seria sacrificado, percorria as ruas de Atenas em frenéticas passeatas de júbilo e alegria. A procissão terminava no templo sagrado, o Lenaion, onde se consumava a hierogamia (o casamento do deus com a Polis inteira em procura da fecundação).
A festa em louvor a Dioniso se desdobrava em quatro celebrações, em Atenas: as Dionísias Rurais, as Leneias, as Dionísias Urbanas ou Grandes Dionisias e as Antestérias, se estendendo de dezembro à março.
Estas festas que tiveram grande desenvolvimento no século VI a.C. acabaram por gerar o que se pode chamar “bagunça Dionisíaca”, por isso foram fortemente reprimidas no século V a.C., no auge do desenvolvimento artístico cultural da Grécia (governo de Péricles - 443 - 429 a.C.) quando a cidade foi embelezada por monumentos como Partenon espalhando seu brilho por todo Mediterrâneo. Nesse tempo mudou, inclusive, a excelência grega e a concepção do teatro. O século V a.C. foi o grande período da Grécia Clássica. Entretanto a influência política e cultural somente atingiu seu esplendor no século IV quando Alexandre, o Grande, expandiu as conquistas gregas formando colônia em lugares afastados como o leste do Afeganistão e as fronteiras da Índia. É a chamada época Helenista. Nessa ocasião foi introduzida na Grécia o culto a Isis (vide deusa Isis no Egito).
Em 370 a.C., quando Atenas perde a hegemonia da arte já se pode sentir a penetração do culto a Dioniso em Roma. 
As BACCHANTES, sacerdotisas que celebravam os mistérios do culto a Dioniso, nesse tempo mais conhecido como BACO (é com o nome de  BACO que Dioniso entrou em Roma, daí alguns estudiosos afirmarem a origem italiana da palavra), ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos em número crescente, causaram tais desordens e escândalos que o Senado Romano proibiu as BACANAIS, em 186 a.C..
As Saturnálias Romanas
Saturno, deus da agricultura dos antigos romanos, identificado como CRONOS pelos gregos, pregava a igualdade entre os homens e foi quem ensinou a arte da agricultura aos italianos. Também expulso do Olimpo, Saturno chegava com os primeiros sopros do calor da primavera e era saudado com festas e um período de liberação das convenções sociais. Durante as Saturnálias os escravos tomavam os lugares dos senhores. Não funcionavam os tribunais e as escolas. Os escravos saiam às ruas para comemorar a liberdade e a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em grande desordem. As casas eram lavadas, após os excessos libertários que aconteciam de 17 a 19 de dezembro (no hemisfério norte correspondia à entrada da primavera. Com a reforma do calendário e a inclusão de mais dois meses, julho e agosto, em homenagem aos imperadores romanos Júlio Cesar e Augusto formam empurrados para diante) seguiam-se a sua Purificação com as LUPERCAIS, festas celebradas em 15 de fevereiro, em homenagem ao deus Pã que matou a loba que aleitara os irmão Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Os Lupercos, sacerdotes de Pã, saiam nús dos templos, banhados em sangue de cabra e depois lavados com leite e cobertos por uma capa de bode perseguiam as pessoas pelas ruas, batendo-lhes com uma correia. As virgens quando atingidas acreditavam se tornarem férteis e as grávidas, se tocadas, conseguiam livrar-se das dores do parto.
Suetônio conta que no tempo das Saturnais todos os participantes e os escravos podiam dizer verdades a seus senhores indo até ao extremo de ridicularizá-los do jeito que bem entendessem.
O filósofo alemão (FRIEDRICH) NIETZSCHE - 1844-1900 - em sua obra, O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA, a respeito de DIONISO e APOLO, deuses opostos, entre o cáos e a ordem, faz um belo estudo sobre estes “mitos” e suas influências na vida humana, que regulam o equilíbrio entre as forças antagônicas e permitem um viver mais adequado. Para NIETZSCHE a arte é a única justificativa possível para o sofrimento humano, por isso combate a moral cristã que lhe parece fruto do ressentimento de frustados. Anticristão e ateu o escritor exalta a vontade de poder do grande indivíduo (super homem).
Justificando o posicionamento de NIETZSCHE, José Guilherme Merquior, em “Saudades do Carnaval” diz: “é fácil calcular a intensidade dos inconvenientes dessa atitude anti-natural quando a civilização racionalizada da Idade Moderna suprimiu justamente os pulmões carnavalescos da cultura. O Cristianismo da sociedade industrial, a religiosidade do tempo de NIETZSCHE não só havia negado e sufocado toda válvula orgiástica - toda composição sistemática com erros e carisma - como virara franca ideologia da sublimação ressurgida das massas aburguesadas , era nesse contexto, que a moral da renúncia significa repressividade absoluta, e repressividade doentia, “indecorosa” para usar a expressão do anti-cristo. O ascetismo vitoriano, a serviço da massificação repressiva, da “redução à mediocridade”, de todas as dimensões morais do homem  eis o que levou NIETZSCHE a um desmascaramento indignado do cristianismo”.
A visão de NIETZSCHE sobre o carnaval, em confronto com a do historiador e filósofo russo MIKHAIL BAKHTIN se aproximam, quando consideram a festa um rito coletivo onde foliões fantasiados e mascarados se transformam num “outro”, numa espécie de efeito catártico regulador do equilíbrio social.
O Carnaval é uma trégua, um alívio da hipocrisia social e do medo do corpo.
Dr.Hiram Aráujo 


Livro "Carnaval"
CAPÍTULO III
O  Carnaval  Cristão
 ( Do século VI d.C. ao século XVIII d.C. )
 
 
O Carnaval Cristão inicia o seu desenvolvimento quando a Igreja Católica oficializa o carnaval, em 590 d.C., e  adquire suas características básicas, na Renascença. Termina  no século XVIII, quando um novo modelo de carnaval  (pós-moderno) começa  a se delinear.
O TERCEIRO CENTRO DE EXCELÊNCIA DO CARNAVAL
 
O terceiro Centro de Excelência do Carnaval fixou-se nas cidades de Nice, Roma e Veneza e passou a irradiar para o mundo inteiro o modelo de carnaval que ainda hoje identifica a festa, com mascarados, fantasiados e desfiles de carros alegóricos e que muitos autores consideram o verdadeiro carnaval. 
 
 
Características
Quando o cristianismo chegou já encontrou as festas, ditas orgiásticas, no uso dos povos. Por seus caracteres libertinos e pecaminosos foram a princípio condenados pela Igreja Católica. Teólogos, doutores e Papas da Igreja, como São Clemente de Alexandria (escritor e doutor da Igreja - 150 - 213 d.C.) TERTULIANO (teólogo romano - Cartago - 155 - 266 d.C., grande pensador polemista dos primeiros séculos da Igreja, combateu tenazmente o relaxamento dos costumes); SÃO CIPRIANO (Bispo e mártir. Padre da Igreja Latina, Cartago, iniciado no século III. Foi decapitado por ocasião das perseguições de Valério); Inocêncio II (Papa-Roma: 1130-1140), entre outros, foram contra o Carnaval.
A Igreja Católica e o Estado Feudal impuseram às cerimônias oficiais um tom sério e sisudo, como uma forma de combater o riso, ritual dos festejos, que em geral descambavam para as permissividades. Entretanto, o povo parecia não observar este tipo de conduta. Indiferente ao oficialismo imposto respondia com atos e ritos cômicos.
Para se entender o fenômeno vamos transcrever um trecho do livro de MIKHAIL BAKHTIN - a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento - O contexto de François Rabelais: “Os festejos de carnaval com todos os atos e ritos cômicos que a ele se ligaram, ocupavam um lugar muito importante na vida do homem medieval. Além dos carnavais propriamente ditos que eram acompanhados de atos e procissões complicadas que incluíam as praças e as ruas durante dias inteiros, celebrava-se  também a “Festa dos Tolos” (festa Stultorum) e a “Festa do Asno”; existia também um “Riso Pascal” (Risus Paschalis) muito especial e livre, consagrado pela tradição. Além disso, quase todas as festas religiosas possuíam um aspecto cômico popular e público, consagrado também pela tradição. Era o caso por exemplo das “Festas do Templo” habitualmente acompanhadas de feiras com seu rico cortejo e festejos públicos (durante os quais se exibiam gigantes, anões, monstros e animais sábios). A representação dos mistérios e soties dava-se num ambiente de carnaval, o mesmo ocorria com as festas agrícolas, como a vindita que se celebravam igualmente nas cidades. O riso acompanhava também as cerimônias e os ritos da vida cotidiana: assim, os “bufões” e os “bobos” assistiam sempre às funções do cerimonial sério, parodiando o seus atos (proclamação dos nomes dos vencedores dos torneios, cerimônia de entrega do direito de vassalagem, iniciação dos novos cavaleiros, etc. Nenhuma festa se realizava sem a intervenção dos elementos de uma organização cômica, como por exemplo, a eleição de rainhas e reis “para rir” para o período da festividade. Todos esses ritos e espetáculos apresentavam uma diferença notável, uma diferença de princípio, poderíamos dizer, em relação às formas do culto e às cerimônias oficiais sérias da Igreja ou do Estado Feudal. Ofereciam uma visão do mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferentes, deliberadamente não oficial, exterior à Igreja e ao Estado; pareciam ter construído, ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida aos quais homens da Idade Média pertenciam em maior ou menor proporção, e nos quais eles viviam em ocasiões determinadas. Isso criava uma espécie de dualidade do mundo e cremos que, sem levá-las em consideração, não se poderia compreender nem a consciência cultural da Idade Média, nem a civilização renascentista. Ignorar ou subestimar o riso popular na Idade Média deforma também o quadro evolutivo histórico da cultura européia nos séculos seguintes.
A dualidade na percepção do mundo e da vida humana já existia no estágio anterior da civilização primitiva. No folclore dos povos primitivos encontrava-se paralelamente aos cultos sérios (por sua organização e seu tom) a existência de cultos cômicos, que convergiam as divindades em objetos de burla e blasfêmia (Riso Ritual); paralelamente aos mitos sérios, mitos cômicos e injuriosos, paralelamente aos heróis, seus sósias paródicos. Há pouco tempo os especialistas do folclores começaram a se interessar pelos ritos e mitos cômicos.
Entretanto, nas etapas primitivas, dentro de um regime social que não conhecia ainda nem classes, nem Estados, os aspectos sérios e cômicos da divindade, do mundo e do homem eram, segundo todos os indícios, igualmente sagrados e igualmente poderiam dizer “oficiais”. Essa característica persiste, às vezes, em alguns ritos  de épocas posteriores. Assim, por exemplo, no primitivo Estado Romano, durante as cerimônias do triunfo, celebrava-se e encanecia-se o vencedor em igual proporção; ao mesmo modo, durante os funerais chorava-se (ou celebrava-se) e ridicularizava-se o defunto. Mas quando se estabelece o regime de classe e de Estado, torna-se impossível se outorgar direitos iguais a ambos os aspectos, de modo que as formas cômicas - algumas mais cedo, outras mais tarde - adquirem um caracter não oficial sem sentido modifica-se, elas complicam-se e aprofundam-se, para transformarem-se, finalmente, nas formas fundamentais da expressão da sensação popular do mundo, a cultura popular. É o caso dos festejos carnavalescos do mundo antigo, sobretudo as Saturnais Romanas, assim como os carnavais da Idade Média que estão evidentemente muito distante do riso ritual que a comunidade primitiva conhecia. O Carnaval é a segunda vida do povo, baseada no princípio do riso. É a vida festiva. A festa é a propriedade fundamental de todas as formas de ritos e espetáculos cômicos da Idade Média”.
Peter Burke, em Cultura Popular na Idade Moderna escreve: “Claude Levi - Strauss nos ensinou a procurar  pares de opostos ao interpretarmos os mitos, rituais e outras formas culturais. No caso do carnaval havia duas oposições básicas que fornecem o contexto para interpretar muitos aspectos nos comportamentos, oposições essas de que os conterrâneos tinham clara consciência A primeira delas é entre o Carnaval e a quaresma entre o que os franceses chamavam de “jours gras” e “jours maigres”, geralmente personificados com um gordo e uma magra. Segundo a Igreja era uma época de jejum e abstinência não só de carne mas de  ovos, sexo, ir ao teatro e outros entretenimentos. Portanto era natural apresentar a quaresma como uma figura emaciada (a própria palavra Quaresma - Lent - significa “tempo de privação” - leam time), desmancha prazeres associada aos baixas da dieta de Quaresma. O que faltava na Quaresma era naturalmente o que abundava no carnaval, de modo que a figura do “Carnaval” era representada como um comilão e beberrão jovem, alegre, gordo sensual amo um Gargântua ou Falstaff   Shakespeareano.” 
A outra oposição, segundo Burke é que o carnaval “era uma representação do mundo virada de cabeça para baixo”. E conclui: “O que é claro é que o carnaval era poliscênico, significando coisas diferentes para diferentes pessoas. Os sentidos cristãos foram sobrepostos ao pagãos, sem obliterá-los e a resultante precisa ser lida como um palimpsexto. Os rituais transmitem simultaneamente mensagens sobre comida e sexo, religião e política. A bexiga de um bobo, por exemplo tem significados diversos, por ser uma bexiga associada aos órgãos sexuais, por vir de um porco, o animal do carnaval por excelência e por ter sido trazida por um bobo, cuja  “fertilidade” é simbolizado por ser vazia.”
Em Nuremberg havia um único carro alegórico, Hölle, trazido num trenó pelas ruas até a praça principal. Muitas vezes ele adotava a forma de um navio, que lembrava as procissões com carros-navios ocasionalmente mencionadas em épocas antigas e medievais. Os carros alegóricos eram particularmente freqüentes e famosos em Florença.
O segundo elemento recorrente no ritual carnavalesco era alguns tipos de competição; as disputas no ringue, as corridas de cavalo e as corridas a pé eram muito populares.  O terceiro elemento recorrente ao carnaval era a apresentação de algum tipo de peça, geralmente uma farsa. No entanto é difícil traçar uma linha entre uma peça formal e “brincadeiras”  informais.
O carnaval era uma época de comédias, que muitas vezes apresentavam  situações invertidas, em que o juiz era posto no tronco ou a mulher triunfava sobre o marido. As fantasias de carnaval permitiram que os homens e as mulheres trocassem os seus papéis. O carnaval, em suma era uma época de desordem institucionalizada, em conjunto de rituais de inversão. Não admira que os contemporâneos o chamassem de época de loucura em que reinava a folia”
Em 325 d.C. a Igreja cria a primeira Assembléia de Bispos, assessorada por teólogos para decidir sobre questões de doutrina e disciplina eclesiástica, o Concílio de Niceia (Cidade de Bitima, no Lago Ascânio, Ásia Menor), onde se colocam em discussão, entre outras questões, as festas populares.
Em 590 d.C., o Papa Gregório I, o Grande, marca, em definitivo, a data do Carnaval no Calendário Eclesiástico. 
À medida que o tempo vai passando o Carnaval vai tomando maior vulto, sobretudo, na área mediterrânea da Europa - na Itália (Roma e Veneza), França (Paris e Nice) e Alemanha (Nuremberg e Colônia).
A Igreja tolerou melhor a festa e até passou a estimulá-la, com o Papa Paulo II (1461 - 1471) que, de sua morada, ao observar a Vila Lacta, que permanecia deserta e silenciosa o ano inteiro resolveu organizar as festa do Carnaval, com a promoção de corridas de cavalos, anões e corcundas, lançamento de ovos, etc., sob a luz de luminárias de tocos de velas (MOCOLETTI).
Em 1545, no Concílio de Trento, entre outros assuntos importantes entra em pauta de discussão o carnaval que é reconhecido como uma manifestação popular de rua importante, não devendo ser hostilizado pelo Clero. Hélio Damante em “Secularização do Carnaval”, cultura nº 172, 1980, página  6 e 7, a respeito do assunto diz: “ainda após Trento a igreja considerava o carnaval pecaminoso somente em círculos restritos, como a  Corte francesa de antes da revolução, onde os bailes de máscaras se transformavam em bacanais, exatamente como na antiga Roma decadente. Não entre o comum do povo entregue a ingênuos folguedos, bailados, banhos de cheiros, revelando o vigoroso e sadio espirito de festa, aculminar nos cortejos (desfiles) expressando não só o pitoresco, mas freqüentemente a crítica aos costumes e  aos poderosos”.
Em 1582, o Papa Gregório XIII (1572 - 1585) ao promover a reforma do Calendário Juliano, transformando-o no Calendário Juliano - Gregoriano, em uso até hoje, pelos povos Católicos, estabeleceu, em definitivo, as datas do Carnaval.
 
As Festas
Na Igreja, mesmo em pleno período de repressão ao Carnaval, os noviços jamais deixaram de organizar a FESTA DOS BOBOS, no dia 28 de dezembro, contrapondo-se à cultura medieval oficial eclesiástica e feudal. Durante o evento elegia-se um Bispo ou Abade dos Bobos. Organizavam-se danças na Igreja e na rua, procissão e missa simulada. Nesse momento, os Cléricos usavam máscaras e roupas de mulheres, ou vestiam os hábitos de trás para frente, seguravam o missal (livro que contém as orações da missa) invertido, jogavam cartas, cantavam cânticos imorais e xingavam a congregação. Também, a FESTA DOS INOCENTES se desenvolvia durante 12 dias após o Natal. Nestes 12 dias acontecia uma espécie de carnaval, com muita bebida e comida e encenações de peças e inversões de diversos tipos. Ou na “Coena Cyprian” (ceia dos ciprianos) as escrituras eram totalmente travestidas, na paródia sacra, as liturgias católicas eram parodiadas. No “Risus Paschalis” (riso da Páscoa) ou na “Festa do Asno” (comemoração cômica da fuga de Maria para o Egito) enfim, em todos esses rituais organizados na própria Igreja a Instituição era ridicularizada e questionada, em eventos de cunhos carnavalescos.
No meio leigo, as festas de carnaval durante a Idade Média e Renascença acontecia em vários segmentos da sociedade. Na Inglaterra, ocorriam as “Festas do Arado”, com casamentos simulados no dia da Epifania. Nas “Festas do Ano Novo”, homens se vestiam de mulher e mulheres de homem. Todos os festejos tinham sentido paródicos de acordo com a região.
Em diversos países da Europa, os festejos entre o Natal e o Carnaval tinham ritos de cunho carnavalesco. O 1o de Maio, na Inglaterra e na Itália, tinha colorido carnavalesco. No verão europeu, também se repetiam os ritos carnavalescos, nos dias de “Corpus Christi” e de “São João Batista”, com procissões, carros alegóricos, fogueiras, fogos de artifícios e comidas.
Quando chegava a época da colheita, no outono, a comida e bebida que não eram ênfases das festas da primavera e verão, rolavam fartas. Eram chamadas FESTAS DA COLHEITA com muito vinho, cerveja e carne. Nas festas de SÃO BARTOLOMEU (25 de agosto) e SÃO MARTINHO (11 de novembro) também ocorriam rituais de comida e bebida.
Outro costume muito difundido por toda a Europa, sobre tudo de Portugal a Hungria era o famoso CHARIVARI, uma espécie de caçoada pública na qual uma vitima era gozada com baladas ofensivas, ao som das batidas estridentes de panelas e caçarolas. Era um difamação pública, em geral, dirigida a uma moça casada com um velho, ou que havia contraído matrimônio pela segunda vez, ou mesmo, que tivesse se casado fora da aldeia. Ainda podiam ser escolhido, maridos traídos ou que apanhavam das mulheres. Essa serenata difamatória podia ser realizada durante ou fora do período de carnaval. Também se promoviam CHARIVARIS contra figuras impopulares que simbolicamente eram enforcadas ou queimadas ou contra pregadores e senhores rurais. Estas festas populares, ditas carnavalescas, se espalharam pela Europa, no período de 1500 a 1800, mas depois foram perdendo força a ponto de somente perdurarem partiches das formas de outrora.
Peter Burke, em Cultura Popular na Idade Média, a respeito do assunto diz: “Em 1500 (o que sugere o capitulo 2) a Cultura Popular era uma cultura de todos: uma segunda cultura para o instruído e a única para todos. Em 1800, porém, na maior parte da Europa, o Clero, a nobreza, os comerciantes, os profissionais liberais - e suas mulheres - haviam abandonado a Cultura Popular às classes baixas, das quais agora estavam mais do que nunca separados por profundas diferenças de concepção do mundo. Um sintoma dessa retirada é a modificação do sentido “povo” usada com menor freqüência do que antes para designar “a gente simples”.
O Clero, a nobreza e a burguesia tinham suas razões pessoais para abandonar a Cultura Popular. No caso do Clero, a retirada fazia parte das reformas católica e protestante. Em 1500, a maioria dos párocos eram homens com nível social e cultural semelhantes aos de seus paroquianos. Os reformadores não estavam satisfeitos com a situação e exigiram um Clero culto. Em áreas protestantes os Cléricos tendiam a ser indivíduos com grau universitário e nas áreas católicas, depois do Concílio de Trento, os padres começaram a ser formados nos Seminários. Além disso, os reformadores católicos ressaltavam a dignidade do Sacerdócio. São Carlos Bartolomeu dizia ao seu Clero que preservasse a dignidade. O pároco do velho estilo que punha uma máscara, dançava na Igreja durante a festa e fazia piada no púlpito foi substituído por um novo estilo de padre, mais educado, de status superior e consideravelmente mais distante do seu rebanho”. Os nobres também, diz Peter Burke, mudaram o comportamento, aprendendo a exercer o auto controle, a se comportar com uma diferença estudada, a cultivar um senso de estilo e a andar com um modo altivo como se estivesse numa dança formal. A divisão crescente entre a Cultura Erudita e Cultura Popular é ainda mais evidente no caso das bruxas. A crença no poder a malignidade das bruxas ter sido quase universal na primeira metade de nosso período. Assim como um fosso entre as duas culturas ampliou-se gradativamente, da mesma forma, algumas pessoas cultas começaram a encarar as canções, crenças e festas populares como exóticas, curiosas, fascinantes, dignas de coleta e registro. Por isso o carnaval quase desapareceu na Europa no século XIX”.
 
As Datas do Carnaval
 
A Igreja, ao constatar a ineficiência das proibições dos festejos, ditos pagãos, arraigados no inconsciente coletivo dos povos, tratou de adaptar ao calendário Eclesiástico as festas consideradas profanas, mas não totalmente desligadas da religião. Esse foi um dos assuntos exaustivamente debatidos no I Concílio de Nicéia, em 325 d.C.. Foram então, permitidas comemorações libertas de orgias e permissividades, na data do nascimento de Cristo, dia 25 de dezembro, época aproximada das festa greco-romanas. Permitiam-se celebrações que passando pela entrada do Ano Novo terminava na Epifania, dia 06 de Janeiro (Dia de Reis).A intenção da igreja era “cristianizar” as festas pagãs realizadas em dezembro (solistício do inverno, entre elas, a festa mitraica que celebrava o Natalis Invictis Solis da religião Persa, que rivalizava com o cristianismo nos primeiros séculos da Era Cristã, bem como as Saturnálias de Roma e os cultos solares entre os Celtas e os Germânicos).
Alguns estudiosos defendem a tese de que a “Era Cristã”, cuja a origem é o nascimento de Cristo só foi definida a partir da primeira metade do século VI pelo Monge Dionísio, O Pequeno (Vide melhores referências no capítulo das Eras). E que foi Gregório I, o Grande (ex-prefeito da cidade de Roma - 572 - que entrou para o Mosteiro Beneditino de Santo André, em 574 e foi eleito Papa pelo povo de Roma em 590 d.C.), que no século VI d.C. incorporou o carnaval no Calendário Eclesiástico.
A marcação das datas do carnaval obedecem as regras que determinam a Páscoa dos católicos, por isso, são também móveis variando de 05 de fevereiro ao 03 de março (a Páscoa dos católicos não pode ter data fixa, para não coincidir com a Páscoa dos judeus que é fixa, a 15 de Nissam).
Para se marcar os dias do carnaval, segue-se a seguinte regra: Primeiramente, determina-se o equinócio da PRIMAVERA, (ponto ou momento em que o sol corta o equador, tornando os dias iguais as noites. Ocorre em dois dias no ano: 21 e 22 de março “hemisfério norte” ou 22 ou 23 de setembro “hemisfério sul”). Vamos, portanto, considerar os dias 21 - 22 de março, já que as regras foram estabelecidas no hemisfério norte. Observa-se na folhinha a lua nova que antecede ao equinócio da primavera e procede-se à “lunação do cômputo” (espaço compreendido entre duas luas novas consecutivas e que consta de 29 dias, 12 horas, 40 minutos e 02 segundos).
O primeiro domingo após o 14o dia de lua nova é o domingo de Páscoa. Ou, numa regra mais prática, o primeiro domingo após a lua cheia, posterior ao equinócio da primavera é o domingo de Páscoa. Se o 14o dia da lua nova ou da lua cheia posterior ao equinócio da primavera cair no dia 21 de março e for sábado, o domingo de Páscoa será no dia 22 de março. Entretanto, se a primeira lua cheia, isto é, o 14o dia após o equinócio da primavera for 29 dias, depois do 21 de março, o domingo de Páscoa só poderá ser 25 de abril, isto é, o mais tarde possível. Como o primeiro dia da lua nova, antes de 21 de março se situa necessariamente, entre 08 de março e 05 de abril, a Páscoa só pode cair entre 22 de março e 25 de abril.
O domingo de carnaval cairá sempre no 7o domingo que antecede ao domingo de Páscoa.
 
O Calendário
 
O CALENDÁRIO, segundo o dicionário, é o sistema elaborado pelos homens para determinar, de modo racional, os dias, as semanas, os meses e os anos, de acordo com os principais fenômenos astronômicos, em especial, os relacionados com a posição do sol, e eventualmente, a lua.
Nosso calendário, puramente solar, visa realizar uma média do ano civil, tão próxima quanto possível do ano trópico (365, 2422 dias solares médios) e nelas estão marcadas as estações que assim retornam em datas fixas. A concordância é obtida por uma combinação de anos ordinários (365 dias) e anos bissextos. Os calendários lunares são fundamentados no ciclo da lua.
O ano (doze lunações) apresenta em relação ao ano trópico, um desvio, que acarreta distorções nas datas de início e término das estações. Esse inconveniente é, em parte corrigido nos calendários lumissolares, pela adjunção de um 13o mês a certos anos.
O mais antigo calendário que se conhece é o dos Egípcios, criado há cerca de 4.000 anos a.C.. O ano era dividido em três estações de quatro meses cada uma: Enchente, Semeadura e Colheita. Segundo a observação das cheias que tornavam fértil o rio Nilo. O ano se contava com o aparecimento da estrela SIRIÚS (365, 25 dias), que sempre coincidia com a fase da enchente. O calendário era falho e se perdia um dia em cada ano, por isso as estações do ano não coincidiam de data.
Problemas idênticos tiveram os Babilônios quando mais tarde criaram seu calendário lunar.
O calendário judeu, lunissolar, teve início em 07 de outubro de 3761 a.C.. Os meses são lunares e ano pode compreender doze ou treze meses. No primeiro caso, ele se chama COMUM e no segundo EMBOLÍSTICO. Os anos comuns podem ter 353, 354 ou 355 dias e os anos Embolísticos 383, 384 ou 385 dias. A Páscoa é fixa e se celebra a 15 do mês nissam.
Os gregos, também usavam o calendário lunissolar em três períodos de dez dias (5 - 15 - 25). Por haver erros acrescentavam noventa dias a cada período de oito anos. Também causavam distorções o dia e a noite, devido a duração variável da estação do ano.
Em Roma, o problema era mais grave. Os Romanos dividiam o mês em três partes: CALENDAS, os IDOS e as NONAS.
As CALENDAS, caiam no primeiro dia da lua nova;
Os IDOS, na lua cheia (13 ou 15 nos meses de março, maio, julho e outubro);
As NONAS, do nono dia antes dos Idos.
Em 45 a.C., o Imperador Júlio Cesar que havia assumido o Poder, em 48 a.C., encarregou o astrônomo Sosígene a reformar o Calendário (palavra que deriva de calenda). Os períodos da lua foram esquecidos e o ano se dividiu em 12 meses, de 30 e 31 dias, com exceção de fevereiro que teria 29 dias, passando a 30 dias, de quatro em quatro anos. Foram acrescentados os meses de julho e agosto, em homenagem a Júlio Cesar e Augustos. O calendário tomou o nome de JULIANO. 
O novo calendário continuou dando erros para frente. Em 8 a.C., o Imperador Augustos ordenou que se omitisse o bissexto por 16 anos, até que as datas se regularizassem. Além disso, tirou um dia de fevereiro e acrescentou-o a agosto, para que o mês de seu nome (o nome Augusto foi adotado por Otávio depois que assumiu o poder, após o assassinato de seu tio avô Júlio Cesar, em 44 a.C.) fosse equiparado ao de Júlio Cesar. Pouco adiantou a reforma: Em 1580, o excedente já era de 10 dias no novo calendário.
Em vista da ocorrência o Papa Gregório XIII, fez outra reforma fazendo com que o dia imediata a 04 de outubro fosse considerado 15, em vez de 05. Também estabeleceu que três vezes em quatrocentos anos fosse omitido o ano bissexto. Os anos seculares divisíveis por 400 seriam bissextos (1600, 2000, etc. ...) e os demais (1700, 1800, 1900) comuns.
Atualmente, a diferença entre o calendário e o ano solar é de apenas 25:95’’ segundos, o que acrescenta um dia em 3.300 anos.
Os povos católicos aceitaram de imediato o calendário Juliano-Gregoriano, entretanto, entre os povos protestantes, a Alemanha e a Inglaterra somente o oficializaram em 1700 e 1752, respectivamente.

Dr.Hiram Aráujo Livro "Carnaval"


CAPÍTULO IV

CARNAVAL CONTEMPORÂNEO

 
( Do século XVIII ao século XX )
 
O Carnaval Contemporâneo começa a definir seu modelo com o surgimento da Industrialização no século XVIII, ganhando identidade própria, após o término da segunda Guerra Mundial, quando   ocorreram na Terra, importantes, mudanças de ordem filosófica, moral e estética.
 
O QUARTO CENTRO DE EXCELÊNCIA DO CARNAVAL . 
O quarto Centro de Excelência do Carnaval  se concentra no novo mundo, em especial, nos países onde as culturas negras mais atuaram: Brasil: Argentina, Colômbia e Trinidad Tobaco.
O epicentro do modelo se localiza no Brasil, especialmente, na cidade do Rio de Janeiro onde se realiza, o que se pode considerar o maior espetáculo audio visual do mundo, o desfile das Escolas de samba do Grupo Especial. Não é sem motivo que o Estádio, ícone do Carnaval Contemporâneo passou a ser conhecido internacionalmente como Sambódromo.
 
 
Características
 
Nos tempos contemporâneos, carnaval deixa de ser uma grande festa em que as principais ruas e praças se convertiam em palcos e a Cidade se tornava um teatro imenso, sem paredes, nas quais os habitantes eram ao mesmo tempo atores e espectadores (modelo clássico) para se enquadrar na velocidade do mundo pós-moderno.
Paul Virilio, arquiteto, urbanista, filósofo, escreveu em 1993 - Velocidade e Política -; Ensaios sobre dramologia e arte do motor ( Estação Liberdade ), nos dá uma visão das mais originais, do mundo pós-moderno. Hoje, movimento e velocidade, espaço e tempo, aceleração e desaceleração regulam as práticas políticas, sociais, artísticas e culturais.
O carnaval não podia deixar de sofrer a influência da “dromologia” ( do grego dromos, corrida e logos, ciência) por isso se transformou em paradas ( desfiles, espetáculos).
O carnaval Contemporâneo encontra  sua máxima expressão no ato do desfile, (espetáculo) atingindo o que Maffesoli diz: “Epifanizar as coisas, paramentá-las oferecê-las como espetáculo é, de alguma forma, celebrar o corpo social, por meio destes pedaços de matérias, que assim se tornam elementos da cultura, que no melhor sentido do termo, permite, funda e conforta, o estar junto social”.
Ao penetrar no mundo pós-moderno o carnaval se enquadra nas teorias do mesmo citado Michel Maffesoli: “a função essencial que pode ser atribuída à imagem, em nossos dias, é a que conduz ao sagrado. É de fato impressionante ver que, fora de qualquer doutrina, e sem organização, existe uma fé sem dogma ou antes, uma série de fés sem dogma” expressando de melhor forma o reencantamento do mundo que afeta, de diversas maneiras, todos os  observadores sociais. Falei, por meu turno, de religiosidade que contamina, de um em um, toda a vida social. De fato o que está em causa não é mais o domínio religioso, STRICTO SENSO, mais muitas outras religiões  “por analogia”  que poderão ser o esporte, os concertos musicais, as reuniões patrióticas ou mesmo as ocasiões de consumo. Ora, em cada um destes casos, e poder-se-ia multiplicar indefinidamente a lista, a religião é feita em torno de imagens que se partilham com outros. Pode-se tratar de uma imagem real, de uma imagem material ou mesmo de uma idéia em torno da qual se comunga, isso pouco importa. Em compensação, interesso-me aqui pelo fato de que essa cosa mentali possui uma eficácia que não se pode negar.
Ao comentar Durkheim, Serge Moscovici fala até mesmo de uma ressurreição da imago que vai agir em profundidade sobre o corpo social. Este poderia ser o emblema ou símbolo convencional, um signo em princípio banal, um objeto trivial, uma palavra anódina que, subitamente ou por ocasião de um rito particular, transformam-se em totens “imagens de coisas sagradas” (Durkheim).  Porém em um movimento de reversibilidade, subitamente essas imagens readquirem vida, e regeneram o corpo social: sociedade ou pequeno conjunto tribal que lhes servem de suporte. A bandeira “farrapo multicor” vai suscitar, naquele momento, um imenso sentimento coletivo. Aquela palavra, bastante comum, vai cumprir uma função signo, tornando-se meio de reconhecimento ou servindo de grito de união. Em cada um destes casos reforça o vínculo social, que assim readquire o seu vigor original”
O carnaval se enquadra nessa visão geral do mundo pós-moderno que segundo  Maffesoli renasce hoje em dia com a “barroquização do mundo”.
Ao analisar o descaso da intelligentzia  pelo estudo do carnaval na cultura contemporânea, o professor Dr. Lamartine P. da Costa conclui: “ isso por que os tempos pós-modernos - hoje tipificando tanto sociedades afluentes como pobres - privilegiam o  lúdico, a ironia e os sentimentos como rejeição à ordem nacional, ora em fase do esgotamento de suas possibilidades emancipadoras”. Este pressuposto é examinado, por exemplo por Douglas Kellner escrevendo para o público acadêmico dos (EEUU) (país de tradição carnavalesca apenas na cidade de New Orleans) sobre a evolução das idéias de Jean Baudrillard. Não confirmando o mérito do pessimismo radical do pensador francês quanto as conseqüências do fim da modernidade, Kellner insiste na expressão “The post-modern carnival” ao sintetizar as características de perdas das referências centrais do pensamento ocidental e da decadência da representação, quer nas artes como nas ciências sociais (Kellner D. Jean Baudrillard - Fron Marxism to post modernison and Beyond”  Stanfort University Press Stanfond, 1989 - pp 91- 121).
De fato, o carnaval pós-moderno não é apenas uma figura de estilo no texto em exame, já que se pervertendo o sentido clássico de representação, cresce a reversão de papéis sociais e a autoreferenciação dos indivíduos. Além disso, aumenta a suspeita sobre os métodos de geração do conhecimento científico que traduziriam sobretudo o interesse narcisístico dos pesquisadores sociais. Ou seja: nada mais típico de carnavalização do que a inversão dos atores sociais e o tratamento irônico do uso do poder pela autoridade.
Diz, então Kellner, conclusivamente ao ligar as ideais de Baudrillard do carnaval:
“Como Nietzsche, ele quer extrais valores de ordem das aparências, sem apelos ao mundo sobrenatural ou à realidade profunda. Como Nietzsche ele apela para os valores aristocráticos, privilegiando o desprendimento, a competição, a sedução, o ritual e outros. Contudo, diferenças significantes de Nietzsche emergem. Baudrillard., assim sendo, diverge do vitalismo e da celebração da vida e do corpo gerando alma atmosfera de melancolia (Kellner, D. -”Jean Baudrillard - From Marxisen to Pos Moderniom and Beyond” Slanfort University Presse, Stan form, 1989 pp’ 120’).
Nestas palavras reside mais uma versão da chamada “controvérsia do pós-moderno” envolvendo a ambivalência da cultura de nossos dias - mediática na sua essência que se mostra tanto repressora como emancipadora. Por isso, certos cientistas sociais e filósofos contemporâneos, como Habermas, defendem a manutenção dos valores universais garantidores da liberdade, ao passo que outros, destacando-se Lyotard, inclinam-se para o relativismo, este sim a expressão real da liberdade em meio ao domínio da mídia e dos computadores.
Enquanto a disputa se prolonga, o que permanece constante é a mudança cultural que independente de ser pós-moderna ou pertencer a uma pretensa modernidade tardia, exibe uma inequívoca ludicidade, uma preocupante descontinuidades fragmentária dos fatos sociais e uma temerosa tribalização dos  grupos humanos, diante de um mínimo de ordem social necessária. Juízos de valor a parte, o que está em jogo mais uma vez na história é a sombra de Dionisos sobre Apolo, isto é, sentimentos e paixões estão sendo revigorados diante da ordem societária agora com uma cumplicidade inesperada e inédita: a da tecnologia.
De resto como diz Maffesoli sociólogo francês que se insere na corrente otimista da pós-modernidade, as sociedades ao tomarem conhecimentos de si derivam para uma “desordem de paixões” e o sentido orgiástico penetra em todas as instâncias da vida social. Nestes termos a estética dá o estilo das relações sociais, inclusive regulando atitudes éticas. Em última instância trata-se da carnavalização da vida cotidiana em que o carnaval, propriamente dito, generaliza-se por secularização.
O que persiste como resquício portanto, é a celebração cristã do carnaval, que na verdade consiste numa herança pagã em que se festejavam deuses (Dionisos entre os Gregos e Saturno e Bacco na antiga Roma). Em outras palavras estamos hoje progredindo para uma cultura carnavalesca em que o ritual dissolve-se hábito. Evidencia-se isso especialmente no Brasil dos últimos anos, onde o carnaval tem se modificado em diversos meses do ano, abandonando seu período fixo na quaresma”.
A ligação da teoria de Maffesoli com o carnaval é testemunhada pelo professor Dr. Luis Felipe Baeta Neves: “Michel Maffesoli, em seu último livro “A Transfiguração do Político” diz:  “entendo estética, no sentido mais próximo de sua etiomologia, de sua origem, o fato de experimentar emoções, sentimentos, paixões comuns e isto nos domínios diversos da vida social”. “É importante ressaltar isso, porque esta definição não tem nada a ver com a definição corrente de estética: o fato de as pessoas poderem experimentar, em algumas circunstâncias uma paixão que as una, seja no carnaval seja em outras situações, isso não acarreta necessariamente uma permanência estética. Como estética Maffesoliana pode variar e deve variar, e como ela fala da comunhão social das pessoas, e esta comunhão pode ocupar outros continentes, seriam importante articular isto com o fenômeno do carnaval e da estética da Escola de Samba.
Para a perspectiva Maffesoliana, a estética não funde uma moral no sentido da moralidade, de fixo, mas no sentido de formação codificada de sentimentos comuns de um grupo em uma determinada circunstância. Em geral, a sociologia se ocupa pouco disto. Maffesoli expressamente se preocupa em mostrar a sociedade nos momentos em que ela se une, momentos aparentemente efêmeros, como os dos jogos da liturgia, da festa, de orgia”.
 
O Carnaval  no  Mundo
Veneza e Roma
Muitos historiadores afirmam que o verdadeiro carnaval nasceu na Itália com bacanais, lupercais e saturais de Roma. A própria origem da palavra é italiana. Conta-se que, ao tempo em que a Igreja ainda não havia adotado integralmente o carnaval, no século XV, o papa Paulo II, entediado com a única beleza parada que lhe chamava a atenção - a visão permanente da Via-láctea que aparecia em frente à sua residência oficial, estimulou o carnaval.
O carnaval veneziano foi um dos mais alegres e fortes do mundo. Bailes e festas se desenvolviam durante uma semana nas praças, ruas, e, sobretudo, nos diversos canais, repletos de Gôndolas enfeitadas e com sofisticadas decorações criadas especialmente para a festa. Teatros e casas as mais diversas, abertas durante 24 horas, atraiam os mais variados tipos de espectadores. A história registra que o primeiro carnaval veneziano ocorreu em 1420 para comemorar a vitória de Veneza sobre Aquiléia : a realização de um desfile satirizando os derrotados. 
No início do século XVIII, incorporou-se à festa carnavalesca a tradição do corso de Gôndolas.  As mais tradicionais famílias participavam do alegre cortejo que seguia o grande canal, ao som de trombetas, até o jardim zoológico da cidade, onde se realizava um grande carnaval.
Quando Veneza foi anexada à Áustria, o carnaval enfraqueceu. Mas quando se deu a libertação do domínio austríaco em 1866, foi realizado  maior carnaval de todos os tempos, voltando esses festejos a ter o mesmo brilho e entusiasmo de sempre. Posteriormente o carnaval de Veneza voltou a se enfraquecer a ponto de quase desaparecer.
O mesmo aconteceu com a cidade de Roma que também outrora possuía um dos mais fortes carnavais da Europa.
Atualmente, as cidades Italianas que possuem maiores carnavais são Viareggio, Cento, Putignano e Verres com desfiles de carros alegóricos e alegres brincadeiras (1997).
 
Nice 
O carnaval de Nice é um dos mais conhecidos e animados carnavais europeus, e tem seus pontos de maior atenção nos desfiles de corsos, nas batalhas de confete e nos espetáculos de marionetes e de teatro de rua. O corso, que apareceu pela primeira vez, em 1882, é formado por um grande cortejo, onde se destacam o Rei Momo e seu grupo de cortesões acompanhando de um séquito de 5 mil crianças, 20 carros alegóricos e 800 máscaras gigantescas representando personagens conhecidos da cidade. No último dia de carnaval acontece o cortejo de incinerações. As máscaras e bonecos são queimados na praia, e há um espetáculo de fogos de artifício, marcando o fim das festividades. Na avenida Atlântica de Nice, na Promenade de Anglais, são organizadas as famosas batalhas das flores,  compostas pelo cortejo de inúmeros carros alegóricos, cheios de bonitas garotas, entre elas a rainha do carnaval, que passam jogando milhares de buquês de flores para o público. Cerca de 10 toneladas de flores são distribuídas pela prefeitura. O carnaval de Nice tem um calendário dilatado, de 15 de fevereiro a 4 de março.
Em fevereiro, data previamente marcada, ocorre o carnaval dos carnavais, uma reunião de representantes de Blocos e conjuntos folclóricos de todo lugar do mundo onde existe carnaval. Esse evento é transmitido pela Eurovisão.
O carnaval de Nice também atualmente (1997) se encontra enfraquecido.
 
Binche 
Várias cidades da Bélgica, como Eben-Emael, Stavelot, Malmedy e Fosse-la-Ville, comemoram alegremente o carnaval com bailes e desfiles  mas nenhuma se compara a Binche, uma cidade de 10 mil habitantes bem perto de Bruxelas (a 50 Km).
Binche fundada há 8 séculos tem uma grande importância histórica devido `a sua posição estratégica. Inclusive sua tradicional fortaleza se transformou num atrativo turístico e seu carnaval numa festa prolongada por 7 semanas, com um pré-carnaval e o carnaval propriamente dito. Em Binche não existem hotéis, mas como as distâncias são curtas os visitantes e turistas se hospedam em cidades vizinhas como Moris, que fica somente a 16 quilômetros.
O pré-carnaval em 1990 se iniciou no dia 14 de janeiro, domingo, e teve prosseguimento dia 21 de janeiro, também domingo, quase apenas as baterias das 13 sociedades lá existentes deram uma demonstração, apresentando-se sem fantasias em suas sedes.
O carnaval propriamente dito começou no domingo, dia 25 de fevereiro, quando as 13 sociedades saíram às ruas, às 10 horas da manhã, para exibirem as fantasias, conservadas até então sob sigilo.
Em Binche está localizado o Museu Internacional do Carnaval e da Máscara, à rua de L’Eglise, 71 - Telefone : 064/335741. O carnavalesco João Trinta fez um trabalho (Exposição) no referido museu.
 
Basiléia
 Em Basiléia, cidade suíça que fica na fronteira da França com a Alemanha, cortada pelo Rio Reno e que possui 200 mil habitantes, faz o maior carnaval do país, o Fasnacht que acontece nas segunda e terça feira seguintes à quarta-feira de cinzas. A festa começa na madrugada de segunda-feira com bandas, instrumentos de percussão e flautas. Todos se fantasiam, mascarados e com pequenas luzes nas cabeças, tocando músicas inusitadas.
 Os grupos formam as bandas e desfilam a tarde, com temas escolhidos anteriormente, e satirizando um fato conhecido de todos. Os cortejos são compostos por pessoas fantasiadas, alegorias e máscaras gigantescas. Durante os desfiles são distribuídos folhetos com textos em prosa e verso, que explicam os objetivos do grupo. Nas noites festivas ha também encenações feitas por pequenos grupos os schnitzelpangg que andam de bar em bar cantando e representando. Espécies de blocos de sujos, sem outro objetivo a não ser fazer barulho e brincar, saem desordenadamente pelas ruas estreita da cidade antiga na noite de terça-feira formando o “gassle” que só acaba às 4 h. da madrugada de quarta feira.
 Quando ocorre o carnaval, é inverno. E a temperatura média na cidade é de 5 graus.
 
 
Bonn
Em Bonn, importante cidade alemã, acontece o chamado carnaval das mulheres, o weiberfastnacht, uma tradição que remota ao século XIX. Esse carnaval, único com essas características no mundo, teve início na pequena cidade de Benel, quando as lavadeiras criaram um movimento que pode ser considerado precursor da emancipação feminina : em certo dia do ano as mulheres tinham liberdade de fazer tudo. Em 1824, a sofisticação do movimento chegou a tal grau que foi criado o comitê dos foliões femininos, ao qual o homem ficava subjugado.
Outro acontecimento importante do carnaval de Bonn, e também da região da Renânia, é o “Rosenmontag”, um carnaval onde se organizam desfiles com pessoas fantasiadas com roupas militares. Máscaras escondem o rosto de todos, pois há uma crença que o diabo, nessa época, fica solto por toda região, onde fica a “floresta negra”, cada grupo cultiva uma forma de tradição, por isso as fantasias variam muito.
 
Nova Orleans
Em Nova Orleans acontece o maior carnaval norte-americano, o Mardi Grass. O Mardi Grass que significa terça gorda, se iniciou quando negociantes fundaram o clube “The Mystick Krewe of Comus”, em 1857, e fizeram um desfile com monumentais carros alegóricos, tendo à frente negros com archotes (na terça-feira de carnaval). Na primeira década deste século formou-se o “Krewe of Rex” que desfilou para o Grão-Duque da Rússia. 
 Durante o Mardi Grass, mais de 50 agremiações desfilam pelas ruas da cidade, os bares ficam o tempo todo abertos, e são tomados por multidões com os mais exóticos trajes, que bebem e saem as ruas fazendo a maior algazarra nas passagens das agremiações. O ponto de encontro do carnaval negro é a Av. Clair Borne, onde se espalham as mais exóticas tribos, com elaboradas e esquisitas fantasia. O monarca da festa é o Rei ZULÚ. Ha uma mistura de ritmos de origem negra. 
Os locais dos desfiles são amplamente divulgados pelos jornais.  O mais importante se estende da ST. Charles Avnue à Canal Street. Uma das agremiações mais conhecidas é a Bacchus que se apresenta com gigantescos e originais carros alegóricos. Outra agremiação bastante conhecida é a Endymion.
 
Outros Carnavais no Mundo
 
Tirana, Albania; Corrientes, Argentina; Aruba; Barbados; Cuba; Oruro, Colombia; Malta; Macedonia; México; Torres Vedras, Portugal; Romenia; Eslovenia: Suécia; Iugoslávia; Uruguai; Grécia; Hambugen, Cologen, Alemanha; etc.
 

Texto retirado da internet .